Para todos os amigos, seguidores, leitores, acompanhantes, conhecidos e desconhecidos que por aqui passam - e também para os outros - ficam os desejos de boas entradas em 2013.
Deixo também algumas sugestões para aqueles que ainda não decidiram onde passar a noite do Reveillon. Basta dar um salto até 1943.
Abraços...
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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
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sábado, 29 de dezembro de 2012
Padre português salvou judeus em Roma
A reportagem foi publicada na última semana no Caderno 2 do jornal Público e revela as actividades do padre Joaquim Carreira que em Roma, como responsável pelo Colégio Pontifício Português, escondeu várias dezenas de pessoas – entre Judeus e outros perseguidos do Nazismo – durante a 2ª Guerra Mundial.
Uma história que está agora a conhecer novos contornos porque parte da documentação começou agora a ver a luz do dia. O jornalista António Marujo entrevistou também uma das pessoas que esteve escondida nas instalações do Colégio Português.
Uma história que está agora a conhecer novos contornos porque parte da documentação começou agora a ver a luz do dia. O jornalista António Marujo entrevistou também uma das pessoas que esteve escondida nas instalações do Colégio Português.
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
O processo de expulsão de Walter Lucas
Em 1940 os Alemães ocupam a França e transformam Portugal num dos últimos portos livres e neutros do continente Europeu. Lisboa assume uma centralidade e importância inesperada, até pelo regime, atraindo milhares de refugiados e, com eles, também muitos jornalistas que aqui procuram as últimas notícias sobre o avanço alemão.
O governo acentua a intervenção da censura prévia sobre todos os correspondentes que trabalham em Portugal, mas é difícil controlar todas as notícias que saem do país.
É neste ambiente que se movimenta Walter Edward Lucas, correspondente em Portugal do prestigiado “The Times”, desde Setembro de 1939, e director do Anglo Portuguese News.
Uma nota dos Serviços de Censura, que se encontra no seu processo, refere que ele é também “delegado especial encarregado pelo Ministério das Informações de controlar os serviços de propaganda” britânicos no nosso país e está encarregado de traduzir os discursos dos homens importantes.
Em finais de 1940 Lucas foi convidado, por Ralph Ingersoll, a assumir também o lugar de correspondente do PM Daily, um jornal de Brooklyn, Nova Iorque, que se apresentava como inovador em diversos aspectos.
O jornalista escreve um grande artigo sobre Portugal, que em Nova Iorque terá sido dividido em três partes, publicadas entre 4 e 6 de Dezembro de 1940. O texto não passou pela censura prévia e seguiu, com Ingersoll, num dos aviões “Clipper” da Pan Am até aos Estados Unidos. (Veja aqui os textos publicados nos dias 3, 4, 5 e 6 de Dezembro)
Menos de 20 dias após as publicações o processo de expulsão toma forma e é extremamente célere. O novo ano entra já com a ordem assinada.
Fica a impressão de que o regime quer deixar um aviso claro aos restantes correspondentes estrangeiros que chegavam ao país. Afinal se se expulsava o correspondente do poderoso “The Times”, qualquer um poderia seguir o mesmo caminho.
Salazar recebe as primeiras informações sobre o caso no dia 23 de Dezembro. O Secretariado da Propaganda Nacional faz chegar, ao secretário pessoal do Presidente do Conselho, as traduções de três artigos. Tratam-se do de Ralph Ingersoll, onde é apresentado Walter Lucas como novo correspondente em Lisboa, e dos dois primeiros textos Lucas.
Numa nota manuscrita esclarece-se que uma terceira notícia está ainda em tradução. Salienta-se também que o texto de Ingersoll é “manifestamente desprimoroso para o nosso país” e dos restantes deve ser dado “conhecimento imediato” ao Presidente do Conselho por partirem de quem “as subescreve”.
Interrogatórios na PVDE
No dia seguinte o jornalista é levado perante a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado para uma primeira inquirição, conduzida pelo adjunto da PVDE, capitão Neves Graça. Para assegurar que nenhuma declaração se perde estão presentes dois tradutores.
Walter Lucas assume a autoria dos artigos mas não a dos títulos, que “foram feitos na redacção do jornal, como é de uso”.
Ainda não tivera possibilidade de ver os exemplares, mas sabia que estes tinham saído em três números porque recebera a informação numa nota de telégrafo enviada dos EUA. Parte importante do interrogatório tenta esclarecer o sentido de algumas das expressões em inglês.
Walter Lucas garante, por exemplo, que a frase “uma Assembleia Nacional bem ginasticada” - Well Driled no original -, nada tem de desprestigiante, apenas pretende mostrar o contraste com a desordem que existia antes da chegada de Salazar.
Já a informação de que as espingardas do exército português eram de um antiquado modelo alemão chegara-lhe de várias pessoas “sem que se lembre do nome de qualquer delas”, as mesmas que lhe falaram da escassez de baterias antiaéreas e dos aeroplanos desactualizados.
A referência à inexistência de um Ministério da Marinha em Portugal, e que este estaria localizado em Inglaterra, no Almirantado, em Whitehall, foi-lhe feita pelo embaixador britânico em Lisboa Wilford Selby.
A forte influência alemã na PVDE e em certos membros do Governo baseou-se numa impressão resultante naquilo que Lucas designou por “diz-se”.
Foi também graças ao “diz-se” que soube da passagem do avião da Lufthansa a baixa altitude e da fuga precipitada do refugiado que esta terá causado.
Mal entendidos
O jornalista parece ter percebido que estava numa situação difícil e, no dia seguinte - dia de Natal - enviou cartas a António Ferro, Director do Secretariado da Propaganda Nacional, e ao capitão Agostinho Lourenço, director da PVDE onde pede desculpa pelo que diz ser um mal-entendido, garantindo que não quis ser ofensivo.
Reconhece que algumas informações podem não ter fundamento e algum entusiasmo exagerado, por escrever para o público americano “que exige sensações mais fortes que o inglês”.
O publico americano é “irreverente no que respeita a valores europeus”, e ele, como jornalista foi “obrigado a empregar um ângulo especial de ataque (…) para os artigos serem bem recebidos”, explica Lucas a Agostinho Lourenço.
“O fim dos meus artigos era apenas dar uma ideia de Portugal, de Lisboa em tempo de Guerra, em cores fortes, contra o fundo histórico do passado. Caí infelizmente na tentação da graça fácil que, se incontestavelmente diverte o leitor americano sem deveras produzir na sua mente qualquer efeito perdurável contra Portugal, reconheço também que melindrem profundamente os sentimentos dos portugueses”, salienta na carta a António Ferro.
A seu favor Walter Lucas destaca artigos anteriores que receberam elogio dos portugueses, com vários a serem republicados na imprensa portuguesa.
Os pedidos de desculpa de pouco serviram. No dia 28 Walter Lucas é de novo convocado à sede da PVDE para novo auto de declarações, relacionadas com o terceiro e último texto publicado no PM, que entretanto já tinha sido traduzido (ver AQUI).
Lucas diz que, entretanto, conseguira aceder aos artigos e garante que as passagens mais elogiosas foram cortadas sem seu conhecimento. Reconhece exageros nos títulos e no texto que o apresentou como correspondente em Lisboa.
A apreensão de armas na agência de viagens alemã Stimar ou a presença de um número superior de alemães nas ruas resumem-se a informações recebidas “sem possível controlo”.
Assegura também que não quis ser insultuoso com a censura, mas que mantinha a impressão sobre a irregularidade de procedimentos, umas vezes autorizando artigos de certo teor, proibidos noutras ocasiões.
A PVDE conclui o processo no dia 30 e considera que a série de artigos “amesquinhava o país, (…) através de narrações inexatas ou fantasiosas”.
Neves Graça considera que não se devem atender às justificações do jornalista pois este não “dúvidas em deturpar ou inventar factos, escrevendo não só disparates mas também falsidades que brigam com o brio nacional e deturpam a posição internacional de Portugal”, razão porque “não é merecedor de continuar a disfrutar a hospitalidade que lhe tem sido dispensada em Portugal”.
O capitão Agostinho Lourenço, deixou na mesma folha um despacho manuscrito, onde é concedido um prazo de 48 horas para Lucas abandonar o país. O prazo será alargado, por não existirem “meios” para cumprir a ordem, e o jornalista abandona o país a 10 de Janeiro de 1941…
A expulsão é notícia em diversos jornais. Os periódicos britânicos dão a notícia em tom crítico, e os alemães dizem que o correspondente do “The Times” utilizou um tom insultuoso para com o país.
Outras expulsões
A notícia continuaria a preocupar os responsáveis do governo português durante mais algumas semanas, e talvez para manter o equilíbrio entre os beligerantes não passou um mês até que outro jornalista também fosse expulso.
A 3 de Fevereiro de 1941 o correspondente do jornal italiano “Gazeta del Popolo”, Cezare Rivelli, também recebe a ordem de expulsão por “haver escrito para o seu jornal correspondência considerada ofensiva para Portugal”, salienta uma informação dos serviços de censura. Proibida é ainda a distribuição do referido jornal e não será a única publicação italiana proibida de circular, pois já o mesmo havia acontecido com o “Regime Fascista”.
Segundo o jornal alemão “Berliner Borsen Zeitung”, Cezare teria elaborado artigos sobre a imigração de judeus.
Com queixas de parte a parte uma nota dos serviços de censura só poderia tirar uma conclusão: “Se ambos os jornalistas se queixam, é porque tem sido imparcial a nossa atitude para com as nações beligerantes”.
Carlos Guerreiro
O governo acentua a intervenção da censura prévia sobre todos os correspondentes que trabalham em Portugal, mas é difícil controlar todas as notícias que saem do país.
É neste ambiente que se movimenta Walter Edward Lucas, correspondente em Portugal do prestigiado “The Times”, desde Setembro de 1939, e director do Anglo Portuguese News.
Uma nota dos Serviços de Censura, que se encontra no seu processo, refere que ele é também “delegado especial encarregado pelo Ministério das Informações de controlar os serviços de propaganda” britânicos no nosso país e está encarregado de traduzir os discursos dos homens importantes.
Agostinho Lourenço, Director da PVDE, e António Ferro, responsável da SPN (na foto ao lado esquerdo de Salazar), conduziram o processo de expulsão de Walter Lucas. O jornalista também lhes escreveu cartas alegando a existência de mal entendidos, mas estas de de pouco lhe serviram.
Em finais de 1940 Lucas foi convidado, por Ralph Ingersoll, a assumir também o lugar de correspondente do PM Daily, um jornal de Brooklyn, Nova Iorque, que se apresentava como inovador em diversos aspectos.
O jornalista escreve um grande artigo sobre Portugal, que em Nova Iorque terá sido dividido em três partes, publicadas entre 4 e 6 de Dezembro de 1940. O texto não passou pela censura prévia e seguiu, com Ingersoll, num dos aviões “Clipper” da Pan Am até aos Estados Unidos. (Veja aqui os textos publicados nos dias 3, 4, 5 e 6 de Dezembro)
Menos de 20 dias após as publicações o processo de expulsão toma forma e é extremamente célere. O novo ano entra já com a ordem assinada.
Fica a impressão de que o regime quer deixar um aviso claro aos restantes correspondentes estrangeiros que chegavam ao país. Afinal se se expulsava o correspondente do poderoso “The Times”, qualquer um poderia seguir o mesmo caminho.
Salazar recebe as primeiras informações sobre o caso no dia 23 de Dezembro. O Secretariado da Propaganda Nacional faz chegar, ao secretário pessoal do Presidente do Conselho, as traduções de três artigos. Tratam-se do de Ralph Ingersoll, onde é apresentado Walter Lucas como novo correspondente em Lisboa, e dos dois primeiros textos Lucas.
Numa nota manuscrita esclarece-se que uma terceira notícia está ainda em tradução. Salienta-se também que o texto de Ingersoll é “manifestamente desprimoroso para o nosso país” e dos restantes deve ser dado “conhecimento imediato” ao Presidente do Conselho por partirem de quem “as subescreve”.
Interrogatórios na PVDE
No dia seguinte o jornalista é levado perante a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado para uma primeira inquirição, conduzida pelo adjunto da PVDE, capitão Neves Graça. Para assegurar que nenhuma declaração se perde estão presentes dois tradutores.
Walter Lucas assume a autoria dos artigos mas não a dos títulos, que “foram feitos na redacção do jornal, como é de uso”.
Ainda não tivera possibilidade de ver os exemplares, mas sabia que estes tinham saído em três números porque recebera a informação numa nota de telégrafo enviada dos EUA. Parte importante do interrogatório tenta esclarecer o sentido de algumas das expressões em inglês.
Walter Lucas garante, por exemplo, que a frase “uma Assembleia Nacional bem ginasticada” - Well Driled no original -, nada tem de desprestigiante, apenas pretende mostrar o contraste com a desordem que existia antes da chegada de Salazar.
Já a informação de que as espingardas do exército português eram de um antiquado modelo alemão chegara-lhe de várias pessoas “sem que se lembre do nome de qualquer delas”, as mesmas que lhe falaram da escassez de baterias antiaéreas e dos aeroplanos desactualizados.
A referência à inexistência de um Ministério da Marinha em Portugal, e que este estaria localizado em Inglaterra, no Almirantado, em Whitehall, foi-lhe feita pelo embaixador britânico em Lisboa Wilford Selby.
A forte influência alemã na PVDE e em certos membros do Governo baseou-se numa impressão resultante naquilo que Lucas designou por “diz-se”.
Foi também graças ao “diz-se” que soube da passagem do avião da Lufthansa a baixa altitude e da fuga precipitada do refugiado que esta terá causado.
Mal entendidos
O jornalista parece ter percebido que estava numa situação difícil e, no dia seguinte - dia de Natal - enviou cartas a António Ferro, Director do Secretariado da Propaganda Nacional, e ao capitão Agostinho Lourenço, director da PVDE onde pede desculpa pelo que diz ser um mal-entendido, garantindo que não quis ser ofensivo.
Reconhece que algumas informações podem não ter fundamento e algum entusiasmo exagerado, por escrever para o público americano “que exige sensações mais fortes que o inglês”.
O publico americano é “irreverente no que respeita a valores europeus”, e ele, como jornalista foi “obrigado a empregar um ângulo especial de ataque (…) para os artigos serem bem recebidos”, explica Lucas a Agostinho Lourenço.
“O fim dos meus artigos era apenas dar uma ideia de Portugal, de Lisboa em tempo de Guerra, em cores fortes, contra o fundo histórico do passado. Caí infelizmente na tentação da graça fácil que, se incontestavelmente diverte o leitor americano sem deveras produzir na sua mente qualquer efeito perdurável contra Portugal, reconheço também que melindrem profundamente os sentimentos dos portugueses”, salienta na carta a António Ferro.
A seu favor Walter Lucas destaca artigos anteriores que receberam elogio dos portugueses, com vários a serem republicados na imprensa portuguesa.
Os pedidos de desculpa de pouco serviram. No dia 28 Walter Lucas é de novo convocado à sede da PVDE para novo auto de declarações, relacionadas com o terceiro e último texto publicado no PM, que entretanto já tinha sido traduzido (ver AQUI).
Lucas diz que, entretanto, conseguira aceder aos artigos e garante que as passagens mais elogiosas foram cortadas sem seu conhecimento. Reconhece exageros nos títulos e no texto que o apresentou como correspondente em Lisboa.
A apreensão de armas na agência de viagens alemã Stimar ou a presença de um número superior de alemães nas ruas resumem-se a informações recebidas “sem possível controlo”.
Assegura também que não quis ser insultuoso com a censura, mas que mantinha a impressão sobre a irregularidade de procedimentos, umas vezes autorizando artigos de certo teor, proibidos noutras ocasiões.
A PVDE conclui o processo no dia 30 e considera que a série de artigos “amesquinhava o país, (…) através de narrações inexatas ou fantasiosas”.
Neves Graça considera que não se devem atender às justificações do jornalista pois este não “dúvidas em deturpar ou inventar factos, escrevendo não só disparates mas também falsidades que brigam com o brio nacional e deturpam a posição internacional de Portugal”, razão porque “não é merecedor de continuar a disfrutar a hospitalidade que lhe tem sido dispensada em Portugal”.
O capitão Agostinho Lourenço, deixou na mesma folha um despacho manuscrito, onde é concedido um prazo de 48 horas para Lucas abandonar o país. O prazo será alargado, por não existirem “meios” para cumprir a ordem, e o jornalista abandona o país a 10 de Janeiro de 1941…
A expulsão é notícia em diversos jornais. Os periódicos britânicos dão a notícia em tom crítico, e os alemães dizem que o correspondente do “The Times” utilizou um tom insultuoso para com o país.
Outras expulsões
A notícia continuaria a preocupar os responsáveis do governo português durante mais algumas semanas, e talvez para manter o equilíbrio entre os beligerantes não passou um mês até que outro jornalista também fosse expulso.
A 3 de Fevereiro de 1941 o correspondente do jornal italiano “Gazeta del Popolo”, Cezare Rivelli, também recebe a ordem de expulsão por “haver escrito para o seu jornal correspondência considerada ofensiva para Portugal”, salienta uma informação dos serviços de censura. Proibida é ainda a distribuição do referido jornal e não será a única publicação italiana proibida de circular, pois já o mesmo havia acontecido com o “Regime Fascista”.
Segundo o jornal alemão “Berliner Borsen Zeitung”, Cezare teria elaborado artigos sobre a imigração de judeus.
Com queixas de parte a parte uma nota dos serviços de censura só poderia tirar uma conclusão: “Se ambos os jornalistas se queixam, é porque tem sido imparcial a nossa atitude para com as nações beligerantes”.
Carlos Guerreiro
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
O "Aterrem em Portugal" vai a concurso
O “Aterrem em Portugal!” está inscrito no concurso de Blogues promovido pelo Aventar, que pretende eleger os melhores blogues em língua Portuguesa do ano 2012...
O ano passado enviaram-me a informação do concurso já fora de prazo, mas agora estive mais atento…
Por enquanto continua o período das inscrições nas diversas categorias (ver AQUI).
O “Aterrem em Portugal” está inscrito na categoria de “História”.
O concurso vai decorrer em duas fases, com as votações a decorrerem on-line, mas isso só vai acontecer a partir de Janeiro. Nessa altura irei pedir a todos os leitores, amigos, seguidores e interessados que deem uma ajudinha com o seu voto…
Boas entradas em 2013…
Carlos Guerreiro
O ano passado enviaram-me a informação do concurso já fora de prazo, mas agora estive mais atento…
Por enquanto continua o período das inscrições nas diversas categorias (ver AQUI).
O “Aterrem em Portugal” está inscrito na categoria de “História”.
O concurso vai decorrer em duas fases, com as votações a decorrerem on-line, mas isso só vai acontecer a partir de Janeiro. Nessa altura irei pedir a todos os leitores, amigos, seguidores e interessados que deem uma ajudinha com o seu voto…
Boas entradas em 2013…
Carlos Guerreiro
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Concurso de Blogues
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Refugiados, donos das desgraças do mundo
É a última reportagem publicada por Walter Lucas no PM Daily antes de ser expulso.
Neste trabalho ele reforça a ideia de uma forte influência alemã em Portugal, mas acima de tudo destaca o drama dos refugiados, os seus medos e as suas esperanças.
Este conjunto de publicações sobre a expulsão do jornalista Walter Edward Lucas fica completa no dia 28 de Dezembro, com um artigo onde se resumem as várias páginas do processo de expulsão conduzidos pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado e pelo Secretariado da Propaganda Nacional.
Neste trabalho ele reforça a ideia de uma forte influência alemã em Portugal, mas acima de tudo destaca o drama dos refugiados, os seus medos e as suas esperanças.
Este conjunto de publicações sobre a expulsão do jornalista Walter Edward Lucas fica completa no dia 28 de Dezembro, com um artigo onde se resumem as várias páginas do processo de expulsão conduzidos pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado e pelo Secretariado da Propaganda Nacional.
LISBOA CHEIA DE ESPIÕES NAZIS
Como a Gestapo anda à caça de novas vítimas
POR W. E. LUCAS
Um distinto estadista português observou numa conversa particular, não há muitos meses, que sabia que cada alemão em Portugal era um espião. Muito embora não se possa tomar esta afirmação como absolutamente verdadeira, no fundo é um resumo perfeito do que se passa.
Os refugiados enchiam as esplandas da baixa de Lisboa, mas isso não era sinal de alegria.
Vêem-se muitos alemães pelas ruas de Lisboa. O que é que demónio podem eles fazer? Comparemos, por exemplo, o número de pessoas empregadas na Embaixada Inglesa e o das empregadas na Legação alemã, em Setembro de 1939. A primeira tinha cerca de dez, não contando com os empregados de escritório; a última mais de 40.
Além disso a grande agência alemã de viagens Stimar, cuja razão de ser desapareceu com o rebentar da guerra, albergava mais de vinte activos jovens nazis. Afirmava-se, muito embora não se possa confirmar, que a polícia portuguesa fez uma rusga a este organismo e encontrou ali grande quantidade de armas.
Um estudo da imprensa portuguesa feito com cuidado seria suficiente para mostrar a direcção dos acontecimentos. Tudo o que se publica em Portugal é controlado por uma censura forte e aparentemente absurda. Teoricamente a censura trabalha segundo as directrizes de uma estrita neutralidade. Os factos de qualquer dos lados em luta podem ser apresentados, mas é proibido qualquer comentário a não ser que não seja absolutamente nada comprometedor.
À medida que a guerra e as vitórias alemã traziam consigo um nervosismo sempre crescente, começou também a desenvolver-se na imprensa a tendência de apresentar as notícias de maneira a dar certo relevo às vitórias alemãs.
Mas mesmo que a censura não tivesse nisso interferência, os próprios alemães começaram a exercer influência na imprensa de maneira a encaminhá-la dentro da sua maneira de pensar.
A quando da invasão dos Países Baixos, “A Voz”, o principal jornal católico, manifestou ligeiros sentimentos de revolta contra este ataque não provocado. No dia seguinte circulava por Lisboa inteira uma carta aberta sugerindo não só que a interpretação dos factos apresentada pelo editor daquele jornal era errónea, mas ainda que era imprudente para ele próprio, editor, expressar tais opiniões.
Não é muito forte o controlo alemão exercido directamente sobre a imprensa, com o exercido em Espanha, principalmente porque a maioria dos directores e editores dos jornais de Lisboa não simpatizam com os nazis. Mas o que não pode ser feito pela imprensa local é levado a cabo por uma verdadeira corrente de propaganda alemã.
Para fortalecer o efeito desta larga e livre distribuição de literatura, uma quantidade de jornais e revistas alemãs decora as portas da maior parte das tabacarias das principais ruas de Lisboa.
Os restos do naufrágio espalharam-se por todas as ruas, cafés e hotéis de Lisboa, assim como muitas cidades da província.
Costumava dizer-se que, se alguém estava na ponte da Gálata, estaria certo de encontrar a tempo quási todas as pessoas que valesse a pena encontrar. Lisboa é a moderna ponte de Gálata.
Mas há outro lado do quadro.
Entre a multidão errante e em retirada há veteranos de guerra contra Hitler que fugiram porque as suas vidas estariam em perigo se fossem apanhados.
Além de soldados ingleses, polacos, belgas franceses, holandeses e checos, há membros daquela nova classe criminosa internacional, homens e mulheres que combateram e escreveram o que tinham a escrever e se encontraram, por consequência, sem um país e muitas vezes sem os necessários documentos.
A história de três mulheres
Se tivésseis entrado num café, no Rossio, há dias, teríeis ali visto três mulheres. Tinham uma aspecto vulgar, mas tinham a sua história.
Andaram durante anos de lado para lado e uma vez mais tinham de levar esta vida de nómadas porque sabiam o que lhes acontecia se não fossem sempre à frente do perseguidor.
Ao fugirem tiveram por companheiro Arthur Benjamin, um judeu alemão, jornalista distinto. O sr. Benjamin encontra-se hoje enterrado em qualquer sepultura vulgar nos Pirinéus, na fronteira espanhola.
Levantou-se qualquer dificuldade acerca do seu passaporte. Recebeu ordem para voltar para trás, para a França. Naquela noite tomou os trinta grãos de morfina que sempre trazia consigo para qualquer emergência desta natureza.
Num outro dia poderíamos encontrar , no “bar” inglês, um belga que tinha acabado de chegar dos subterrâneos da Gestapo de Madrid. Tendo atrás de si uma tal experiência, fica-se admirado com a sua fria resolução de ir para Inglaterra e continuar a luta que deixou em França.
Depois de se ouvir a sua história pode bem acreditar-se que, quando o Sr. Himmler visitou o lugar de tortura da inquisição de Barcelona, ficou desapontado, como se conta, ao ver que, pelo que diz respeito a ideias, nada de novo ali tinha encontrado. As gentes da Gestapo tentam em todos os “bares” encontrar os homens e mulheres que procuram.
Todos os estratagemas
Lisboa está cheia de gente. Homens e mulheres que transpuseram as vertentes áridas dos Pirineus ou conseguiram ir de França para África pelos caminhos mais estranhos. Aterreram em Espinho em aeroplanos roubados e muitos outros usaram todos os estratagemas para fugirem a-fim-de poderem continuar a luta contra Hitler em Inglaterra ou em outra qualquer parte.
Há desespero assim como coragem nas ruas de Lisboa.
Este porto de Portugal está a tornar-se uma armadilha para muitos. Todos os caminhos parecem estar fechados a não ser que se dê o caso de se ter a chave particular que as abra.
Há aqui pelo menos dois escritores distintos cujos nomes estão na lista especial das pessoas a que serão permitidas as entradas nos estados Unidos. Enquanto a maquinaria oficial de Washington range e geme para lhes abrir a porta da salvação, podem eles desaparecer no negro abismo.
Entretanto, os barcos para a América e os “Clippers” vão cheios de passageiros armados com os necessários documentos. Muitos destes receberam os seus documentos porque são ricos. O sofrimento e a necessidade de escapar não servem de critério nem para a concessão do visto nem para a da passagem.
(PM, 6 de Dezembro de 1940)
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terça-feira, 25 de dezembro de 2012
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
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HOSPITAL DAS BONECAS
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sábado, 22 de dezembro de 2012
Bom Natal
O Aterrem em Portugal deseja a todos os seus leitores, amigos e seguidores um Feliz Natal.
(Boletim da Mocidade Portuguesa Feminina , Dezembro 1940)
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Guerra Civil de Espanha na Visão História
A última edição da revista Visão História é dedicada ao envolvimento de Portugal na Guerra Civil de Espanha.
Encontramos artigos sobre o envolvimento do governo português no conflito e sobre a forma como centenas de portugueses lutaram e morreram nas trincheiras republicanas e nacionalistas.
A revista revela também os antecedentes desta guerra que matou meio milhão de pessoas e faz ainda um enquadramento histórico dos diversos acontecimentos.
Um trabalho deste género não ficaria completo sem referência aos vários escritores e outros vultos da cultura que passaram pelos campos de batalha de Espanha. Hemingway, Saint Exupéry ou Frank Capa – entre outros – também merecem destaque em algumas páginas…
Uma revista sobre a primeira grande frente que, na Europa, opôs fascistas e nacionalistas aos republicanos, comunistas e anarquistas…
Leitura recomendada para os próximos dias…
Carlos Guerreiro
Encontramos artigos sobre o envolvimento do governo português no conflito e sobre a forma como centenas de portugueses lutaram e morreram nas trincheiras republicanas e nacionalistas.
A revista revela também os antecedentes desta guerra que matou meio milhão de pessoas e faz ainda um enquadramento histórico dos diversos acontecimentos.
Um trabalho deste género não ficaria completo sem referência aos vários escritores e outros vultos da cultura que passaram pelos campos de batalha de Espanha. Hemingway, Saint Exupéry ou Frank Capa – entre outros – também merecem destaque em algumas páginas…
Uma revista sobre a primeira grande frente que, na Europa, opôs fascistas e nacionalistas aos republicanos, comunistas e anarquistas…
Leitura recomendada para os próximos dias…
Carlos Guerreiro
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Portugal, um trunfo nas mãos alemãs
O segundo artigo assinado por Walter Lucas começa por destacar a importância da aliança Luso-Britânica para depois desatacar os esforços de aproximação ao regime de Salazar conduzidos por Hitler.
Volta a falar do terror em que vivem os refugiados, mesmo em Lisboa, da forma de actuar da PVDE e de algumas movimentações na Península Ibérica de personalidades ligadas à polícia política alemã, a Gestapo, que ele considera muito suspeitas.
Este artigo foi publicado a 5 de Dezembro. As suas referências à PVDE serão um dos alvos do interrogatório no processo que levará à sua expulsão do país…
Lisboa: As relações de Portugal com a Inglaterra têm sido únicas na política europeia. O tratado assinado em 1378 ficou para sempre e mostra assim, claramente, que ambas as nações têm interesses comuns.
Com o decorrer dos tempos a manutenção de um Portugal independente tornou-se uma das chaves da segurança do Império Britânico. A importância estratégica de Lisboa, Madeira e Açores não é difícil de compreender.
Por outro lado, a conservação das possessões ultramarinas de Portugal têm de depender, no fim de contas, da amizade da senhora dos mares. Estas relações entre os dois países, relações que começaram quási por acaso, transformaram-se numa necessidade política devido à posição geográfica de ambas as nações.
Há oitocentos anos o Castelo de Lisboa foi tomado de assalto aos mouros. Esta grande vitória alcançada sobre os infiéis foi levada a cabo com o auxílio dos cruzados ingleses que se encontravam em Lisboa a caminho da Terra Santa.
Da aliança política e militar saíram relações comerciais que permitiram aos ingleses firmar-se bem em Portugal e que serviram para desenvolver a maior indústria portuguesa, a do Vinho do Porto.
O prato característico português é o “bacalhau”. O bacalhau vem das águas da Terra Nova e Gronelândia, dos mares da Islândia e Noruega. Durante a extinção dos mosteiros em Inglaterra, no século XVI, os pescadores de Devon e da Cornualha, forneciam o bacalhau que se comia às sextas feiras e dias santos, tiveram de encontrar um outro mercado. Portugal ainda era católico e já se encontrava comercialmente ligado à Inglaterra. Assim, pescadores vieram ao Porto e em troca de bacalhau levaram para Inglaterra vinho português e fruta do Algarve.
O esforços da Alemanha
Durante vários anos antes da guerra a superior posição da Grã-Bretanha no comércio português foi combatida pela Alemanha e foram feitos esforços para minar a influência política inglesa, esforços que também não foram feitos em vão.
As pessoas que em geral visitam este país podem não notar qualquer prova particular da actividade alemã. As bandeiras que agora, durante as festas centenárias, esvoaçam em muitos edifícios, são na sua maioria, como é natural, portuguesas. Mas nas principais ruas de Lisboa pode ver-se um certo número de “Union Jacks” (pavilhão britânico).
Motoristas de praça trazem bandeirinhas britânicas nos seus carros e pregoeiros vendem-nas pelas ruas. A cruz Suástica não aparece em parte alguma. Mesmo as poucas firmas alemãs que aqui há não as arvoram. Mas é um erro tomar isto como sinal da verdadeira situação.
Como em muitos países, ver-se-á que, pelo que diz respeito à guerra, que as simpatias da maioria da população vão para a causa dos aliados, muito embora os Governos ou alguns dos seus membros de influência possam ser germanófilos.
Hitler, que é um génio pelo que diz respeito à obtenção de posições vitais, resolveu fazer isto em Portugal e usa para isso todos os meios. Portugal poderia ser um belo trunfo no jogo alemão da dominação do mundo.
Dispondo de Lisboa como base aérea e submarina e ainda com a possibilidade de controlar a Madeira e os Açores, as vias comerciais ultramarinas inglesas correriam grande perigo e estariam vencidas as primeiras alpondras para um ataque aos Estados Unidos.
Se ninguém mais tem estado de olhos fitos na grande importância de Portugal, os alemães não têm deixado de fazê-lo. Desde há anos que eles mostram constantemente os seus produtos da maneira mais sedutora.
Convidaram a visitar Berlim muitas das pessoas dos círculos de influência. Oficiais do exército foram recebidos prodigamente na Alemanha e ao mesmo tempo deixaram-lhes ver a força irresistível do exército hitleriano.
O mais importante
Mas o mais importante de tudo é que a polícia internacional portuguesa – internacional só de nome, porque é de facto uma espécie de polícia secreta – se encontra fortemente sob a influência alemã. Haveria muito que apreender com os métodos da Gestapo que poderiam ser aplicáveis na ditadura irmã do estado português, camarada da ditadura alemã.
Contra toda esta maquinação, os ingleses pouco mais têm feito do que confiar no seu prestígio e na sua posição no país, o que está enfraquecendo rapidamente.
Há poucas semanas, um aeroplano voando muito baixo, manhã cedo ainda, sobre o Estoril, praia da moda nas proximidades de Lisboa, acordou com o roncar dos seus motores as pessoas que ainda dormiam.
Um refugiado saltou da cama, foi á janela para ver o aeroplano e, vendo a cruz suástica nas suas asas, fez as malas à pressa e partiu. Durante uma semana inteira o grande aparelho da Lufthansa, que faz o serviço entre Berlim e Lisboa, usou o mesmo estratagema roçando quási pelos telhados das casas.
Em tempos de paz isto poderia chamar-se o mostrar da bandeira. Nos tempos que correm, é um método hábil de irritar nervos que quási já nada suportam. Quasi ao mesmo tempo voltava o sr. Suñer de Berlim a Espanha e o sr. Himmler, sombra negra sobre a face da Europa, tinha chegado a Madrid.
Diz-se que este cavalheiro apareceu sempre em público com um revólver à cinta, uma inovação curiosa dos processos internacionais. A presença de três assassinos da Gestapo armados, à sua volta, também não foi bem vista pelos espanhóis.
No próprio Portugal encontrava-se o sr. Frederick Sieburg – foi esta a sua segunda visita a este país no decurso de quatro semanas – e desta vez tinha vindo acompanhado pela figura sinistra do sr. Beifurn, um chefe da Gestapo.
Visto isto por traz dos bastidores parecia que os nazis se estavam a preparar para o primeiro acto do drama da Península Ibérica. Só por si, o facto de Sieburg ter aqui estado, é significativo. Os nazis número um não andam em tempo de guerra de lado para lado por simples prazer.
Más notícias
Em todo o caso, este cavalheiro é sempre um presságio de más notícias para o país que visita. Prestou um grande serviço à sua causa em Paris antes da guerra, e muito auxiliou também em Bruxelas antes da invasão alemã da Bélgica. Mas personalidades são apenas palhas na corrente dos acontecimentos, palhas que mostram no entanto a direcção da mesma corrente.
A importância da visita do sr. Sieburg é desta natureza. Deve-se ficar alerta em frente de tal aviso. Por traz dele tem-se feito activamente preparativos desde há meses.
(PM, 5 de Dezembro de 1940)
Volta a falar do terror em que vivem os refugiados, mesmo em Lisboa, da forma de actuar da PVDE e de algumas movimentações na Península Ibérica de personalidades ligadas à polícia política alemã, a Gestapo, que ele considera muito suspeitas.
Este artigo foi publicado a 5 de Dezembro. As suas referências à PVDE serão um dos alvos do interrogatório no processo que levará à sua expulsão do país…
HITLER TECE INTRIGAS EM PORTUGAL CONTRA A INGLATERRA
Procura pontos vitais no Gôverno em Lisboa embora a maioria do povo seja anglófila.
Por W. E. Lucas
Lisboa: As relações de Portugal com a Inglaterra têm sido únicas na política europeia. O tratado assinado em 1378 ficou para sempre e mostra assim, claramente, que ambas as nações têm interesses comuns.
Com o decorrer dos tempos a manutenção de um Portugal independente tornou-se uma das chaves da segurança do Império Britânico. A importância estratégica de Lisboa, Madeira e Açores não é difícil de compreender.
Por outro lado, a conservação das possessões ultramarinas de Portugal têm de depender, no fim de contas, da amizade da senhora dos mares. Estas relações entre os dois países, relações que começaram quási por acaso, transformaram-se numa necessidade política devido à posição geográfica de ambas as nações.
Walter Lucas garante que as "a conservação das possessões ultramarinas de Portugal têm de depender(...) da amizade da senhora dos mares".
(Página de folheto de propagnda inglês "Poder Marítimo na Europa" de 1940)
Há oitocentos anos o Castelo de Lisboa foi tomado de assalto aos mouros. Esta grande vitória alcançada sobre os infiéis foi levada a cabo com o auxílio dos cruzados ingleses que se encontravam em Lisboa a caminho da Terra Santa.
Da aliança política e militar saíram relações comerciais que permitiram aos ingleses firmar-se bem em Portugal e que serviram para desenvolver a maior indústria portuguesa, a do Vinho do Porto.
O prato característico português é o “bacalhau”. O bacalhau vem das águas da Terra Nova e Gronelândia, dos mares da Islândia e Noruega. Durante a extinção dos mosteiros em Inglaterra, no século XVI, os pescadores de Devon e da Cornualha, forneciam o bacalhau que se comia às sextas feiras e dias santos, tiveram de encontrar um outro mercado. Portugal ainda era católico e já se encontrava comercialmente ligado à Inglaterra. Assim, pescadores vieram ao Porto e em troca de bacalhau levaram para Inglaterra vinho português e fruta do Algarve.
O esforços da Alemanha
Durante vários anos antes da guerra a superior posição da Grã-Bretanha no comércio português foi combatida pela Alemanha e foram feitos esforços para minar a influência política inglesa, esforços que também não foram feitos em vão.
As pessoas que em geral visitam este país podem não notar qualquer prova particular da actividade alemã. As bandeiras que agora, durante as festas centenárias, esvoaçam em muitos edifícios, são na sua maioria, como é natural, portuguesas. Mas nas principais ruas de Lisboa pode ver-se um certo número de “Union Jacks” (pavilhão britânico).
Motoristas de praça trazem bandeirinhas britânicas nos seus carros e pregoeiros vendem-nas pelas ruas. A cruz Suástica não aparece em parte alguma. Mesmo as poucas firmas alemãs que aqui há não as arvoram. Mas é um erro tomar isto como sinal da verdadeira situação.
Como em muitos países, ver-se-á que, pelo que diz respeito à guerra, que as simpatias da maioria da população vão para a causa dos aliados, muito embora os Governos ou alguns dos seus membros de influência possam ser germanófilos.
Hitler, que é um génio pelo que diz respeito à obtenção de posições vitais, resolveu fazer isto em Portugal e usa para isso todos os meios. Portugal poderia ser um belo trunfo no jogo alemão da dominação do mundo.
Dispondo de Lisboa como base aérea e submarina e ainda com a possibilidade de controlar a Madeira e os Açores, as vias comerciais ultramarinas inglesas correriam grande perigo e estariam vencidas as primeiras alpondras para um ataque aos Estados Unidos.
Se ninguém mais tem estado de olhos fitos na grande importância de Portugal, os alemães não têm deixado de fazê-lo. Desde há anos que eles mostram constantemente os seus produtos da maneira mais sedutora.
Convidaram a visitar Berlim muitas das pessoas dos círculos de influência. Oficiais do exército foram recebidos prodigamente na Alemanha e ao mesmo tempo deixaram-lhes ver a força irresistível do exército hitleriano.
O mais importante
Mas o mais importante de tudo é que a polícia internacional portuguesa – internacional só de nome, porque é de facto uma espécie de polícia secreta – se encontra fortemente sob a influência alemã. Haveria muito que apreender com os métodos da Gestapo que poderiam ser aplicáveis na ditadura irmã do estado português, camarada da ditadura alemã.
Contra toda esta maquinação, os ingleses pouco mais têm feito do que confiar no seu prestígio e na sua posição no país, o que está enfraquecendo rapidamente.
Há poucas semanas, um aeroplano voando muito baixo, manhã cedo ainda, sobre o Estoril, praia da moda nas proximidades de Lisboa, acordou com o roncar dos seus motores as pessoas que ainda dormiam.
Um refugiado saltou da cama, foi á janela para ver o aeroplano e, vendo a cruz suástica nas suas asas, fez as malas à pressa e partiu. Durante uma semana inteira o grande aparelho da Lufthansa, que faz o serviço entre Berlim e Lisboa, usou o mesmo estratagema roçando quási pelos telhados das casas.
Em tempos de paz isto poderia chamar-se o mostrar da bandeira. Nos tempos que correm, é um método hábil de irritar nervos que quási já nada suportam. Quasi ao mesmo tempo voltava o sr. Suñer de Berlim a Espanha e o sr. Himmler, sombra negra sobre a face da Europa, tinha chegado a Madrid.
Diz-se que este cavalheiro apareceu sempre em público com um revólver à cinta, uma inovação curiosa dos processos internacionais. A presença de três assassinos da Gestapo armados, à sua volta, também não foi bem vista pelos espanhóis.
No próprio Portugal encontrava-se o sr. Frederick Sieburg – foi esta a sua segunda visita a este país no decurso de quatro semanas – e desta vez tinha vindo acompanhado pela figura sinistra do sr. Beifurn, um chefe da Gestapo.
Visto isto por traz dos bastidores parecia que os nazis se estavam a preparar para o primeiro acto do drama da Península Ibérica. Só por si, o facto de Sieburg ter aqui estado, é significativo. Os nazis número um não andam em tempo de guerra de lado para lado por simples prazer.
Más notícias
Em todo o caso, este cavalheiro é sempre um presságio de más notícias para o país que visita. Prestou um grande serviço à sua causa em Paris antes da guerra, e muito auxiliou também em Bruxelas antes da invasão alemã da Bélgica. Mas personalidades são apenas palhas na corrente dos acontecimentos, palhas que mostram no entanto a direcção da mesma corrente.
A importância da visita do sr. Sieburg é desta natureza. Deve-se ficar alerta em frente de tal aviso. Por traz dele tem-se feito activamente preparativos desde há meses.
(PM, 5 de Dezembro de 1940)
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Recordar Sousa Mendes e os refugiados
A Câmara Municipal de Almeida pretende instalar, em Vilar Formoso, um memorial dedicado a Aristides de Sousa Mendes e aos judeus e refugiados da 2.ª Guerra Mundial, adiantou, na última semana, à agência Lusa o presidente da Câmara, António Baptista Ribeiro.
O autarca anunciou que a Câmara tenciona adquirir os antigos armazéns da CP, junto da estação de Vilar Formoso, para instalação de um espaço museológico e multimédia que assinale a "fuga de judeus e de outros refugiados" do holocausto nazi e de evocação da "memória do cônsul Aristides de Sousa Mendes".
O autarca adiantou que decorrem negociações para aquisição dos antigos armazéns ferroviários, que se encontram "em degradação progressiva", para os adaptar a espaço museológico.
Se a CP não vender os edifícios, a autarquia de Almeida terá de "procurar outro espaço, nomeadamente edifícios que estão a necessitar de ser recuperados no largo da Estação" de Vilar Formoso, admitiu.
Baptista Ribeiro considerou fazer sentido instalar o espaço museológico junto da estação ferroviária fronteiriça, uma vez que a Linha da Beira Alta está associada ao antigo cônsul de Portugal em Bordéus, pois os refugiados entraram em Portugal de comboio.
Entre os dias 17 e 19 de junho de 1940, Aristides de Sousa Mendes assinou milhares de vistos para salvar pessoas do holocausto nazi, contrariando as ordens do Governo de Salazar, situação que levaria à sua expulsão da carreira diplomática.
O projeto da Câmara de Almeida, denominado "Evocação e memorial aos judeus e refugiados na 2.ª Guerra Mundial", foi idealizado com a intenção de atrair visitantes para o concelho, evocar o feito histórico e perpetuar a memória do cônsul.
O plano também envolve a produção de conteúdos multimédia, com base em trabalhos de investigação, que já estão a ser realizados por Luísa Marques, responsável pelo Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes, segundo o autarca.
"É um projeto interessantíssimo. É um trabalho de pesquisa relacionado com os refugiados da 2.ª Guerra Mundial, e não só com judeus, que fizeram a sua quarentena em Vilar Formoso e tiveram vários destinos em Portugal", explicou.
Muitos daqueles que atravessaram a fronteira com vistos assinados por Aristides de Sousa Mendes "passaram a fazer vida em Portugal, mas a grande maioria foi para o Brasil", observou.
A investigação que está em curso, não só em Portugal como na Áustria, em Bordéus e no Brasil, "tem levado a descobertas interessantíssimas", revelou o autarca.
Após a investigação será produzido um trabalho multimédia que equipará o futuro museu e também servirá para exposições itinerantes, adiantou.
António Baptista Ribeiro prevê que a investigação e os conteúdos multimédia, num investimento global de 240 mil euros, possam ficar concluídos até junho de 2013. A execução do projeto do museu será candidatada a verbas comunitárias do próximo Quadro Comunitário de Apoio.
Carlos Guerreiro com Agência Lusa
O autarca anunciou que a Câmara tenciona adquirir os antigos armazéns da CP, junto da estação de Vilar Formoso, para instalação de um espaço museológico e multimédia que assinale a "fuga de judeus e de outros refugiados" do holocausto nazi e de evocação da "memória do cônsul Aristides de Sousa Mendes".
O autarca adiantou que decorrem negociações para aquisição dos antigos armazéns ferroviários, que se encontram "em degradação progressiva", para os adaptar a espaço museológico.
Se a CP não vender os edifícios, a autarquia de Almeida terá de "procurar outro espaço, nomeadamente edifícios que estão a necessitar de ser recuperados no largo da Estação" de Vilar Formoso, admitiu.
Baptista Ribeiro considerou fazer sentido instalar o espaço museológico junto da estação ferroviária fronteiriça, uma vez que a Linha da Beira Alta está associada ao antigo cônsul de Portugal em Bordéus, pois os refugiados entraram em Portugal de comboio.
Entre os dias 17 e 19 de junho de 1940, Aristides de Sousa Mendes assinou milhares de vistos para salvar pessoas do holocausto nazi, contrariando as ordens do Governo de Salazar, situação que levaria à sua expulsão da carreira diplomática.
O projeto da Câmara de Almeida, denominado "Evocação e memorial aos judeus e refugiados na 2.ª Guerra Mundial", foi idealizado com a intenção de atrair visitantes para o concelho, evocar o feito histórico e perpetuar a memória do cônsul.
O plano também envolve a produção de conteúdos multimédia, com base em trabalhos de investigação, que já estão a ser realizados por Luísa Marques, responsável pelo Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes, segundo o autarca.
"É um projeto interessantíssimo. É um trabalho de pesquisa relacionado com os refugiados da 2.ª Guerra Mundial, e não só com judeus, que fizeram a sua quarentena em Vilar Formoso e tiveram vários destinos em Portugal", explicou.
Muitos daqueles que atravessaram a fronteira com vistos assinados por Aristides de Sousa Mendes "passaram a fazer vida em Portugal, mas a grande maioria foi para o Brasil", observou.
A investigação que está em curso, não só em Portugal como na Áustria, em Bordéus e no Brasil, "tem levado a descobertas interessantíssimas", revelou o autarca.
Após a investigação será produzido um trabalho multimédia que equipará o futuro museu e também servirá para exposições itinerantes, adiantou.
António Baptista Ribeiro prevê que a investigação e os conteúdos multimédia, num investimento global de 240 mil euros, possam ficar concluídos até junho de 2013. A execução do projeto do museu será candidatada a verbas comunitárias do próximo Quadro Comunitário de Apoio.
Carlos Guerreiro com Agência Lusa
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terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Lisboa, destino do naufrágio da guerra
Este é o primeiro dos três artigos publicado na PM e assinados por Walter Lucas e que levariam à sua expulsão nos princípios de 1041.
O jornalista explicaria mais tarde que tinha escrito apenas um longo artigo, que o jornal terá decidido dividir em três partes distintas.
Os títulos, as entradas e os entretítulos também são da responsabilidade dos editores do periódico.
Foi publicado no dia 4 de Dezembro de 1940 e traça um retrato de Lisboa e dos portugueses, faz um resumo das histórias do país durante os descobrimentos e desde os princípios do século XX, até aos anos 40. Refere a chegada de milhares de refugiados e deixa ainda algumas reflexões sobre a situação militar…
Lisboa: Diz-se que Lisboa é a única cidade na Europa onde uma pessoa pode ser atropelada por um carro no passeio. Não nos devemos também esquecer disto ao passarmos pela rua do arsenal ou ao descermos a R. de S. Pedro de Alcântara onde os salva vidas do eléctricos quais roçam, como o carro de Bodicea, pelos tornozelos dos peões.
Há também outras singularidades nesta linda cidade que se aglomera sobre as suas sete colinas nas margens do Tejo. Carros puxados a mulas e bois passam fazendo barulho pelos sítios em que se encontram lojas da moda. Peixeiras, transportando à cabeça as canastras gotejantes, gritam os seus agudos pregões tanto pelas ruas dos ricos como dos pobres. Burricos, muito carregados com cabazes cheios de hortaliça, vagueiam pacientemente por entre o tráfico enquanto os seus donos regateiam e discutem com os fregueses.
Durante todo o dia e quási até ao romper da manhã, os cafés do Rossio e por toda a parte da cidade estão cheios dos seus frequentadores que não se cansam de discutir. Rapazitos, velhos andrajosos, rufiões roucos e de barba por fazer metem à cara de quem passa os bilhetes da Lotaria. Automóveis buzinando fortemente e produzindo sons ásperos passam a toda a pressa pelas ruas mais estreitas de tal modo que, diz-se, o sr. Malcom Campell afirmou que guiar em Lisboa era coisa muito perigosa para ele.
Lisboa é um cidade de barulho, de barulho tão insistente que os ruídos de New York ou de Londres, comparados com ele, parecem o silêncio da morte.
Duas Revoluções por mês
Antes de 1926 pouco acontecia em Lisboa além das revoluções de 15 em 15 dias. Desde 1926 e depois da subida ao poder do dr. Salazar quási não tem havido perturbações desta natureza para quebrar a monotonia dos dias calmos. O Ditador de Portugal trocou o matraquear das metralhadoras e o estampido ocasional dos canhões de um forte ou de um barco de guerra surto no Tejo pela música de bandas ou pela marcha de disciplinados Legionários e Filiados da Mocidade.
Há outras transformações notáveis entre aquele tempo e o dia de hoje. As ruas pavimentadas de pedras foram substituídas em muitos pontos por estradas alcatroadas; às disputas de deputados rivais sucedeu o aplauso bem ginasticado da Assembleia Nacional. Os bairros pobres que se formaram no decurso séculos foram substituídos por estradas novas e outras coisas agradáveis à comunidade.
Estas coisas são ainda novas em Portugal e uma caus de orgulho e admiração para os portugueses. Mas ainda hoje muitos dos mais velhos se sentam no cafés e conspiram em voz alta, enquanto os mais novos, lembrando o grande passado de Portugal, olham em frente com esperança para o futuro do seu país.
Durante os últimos catorze anos tem havido uma corrente íntima ou interior de expectativa. Portugal tem estado a readquirir gradualmente a sua dignidade nacional, muito embora mantena ainda velhos costumes do seu povo.
Com a rapidez de um tufão tudo isto mudou em Maio deste ano. Desde esta data Portugal, e especialmente Lisboa, tem estado a tomar com espantosa rapidez um vulto internacional de tal ordem que hoje, quatro meses depois, apresenta-se como qualquer coisa de extraordinário na Europa - É como um parente pobre que de um momento para outro se viu visitado por todos os seus primos ricos, alguns dos quais viessem pedir migalhas da sua mesa frugal.
A tragédia da Europa trouxe às ruas de Lisboa uma excitação passageira embora real, e ao seu povo uma enorme prosperidade. O avanço constante das legiões nazis deu a Portugal uma posição proeminente no mapa diplomático.
Assim como aquela Bloody Mary de Inglaterra, que tinha Calais impressa sobre o coração, muitos polacos, checos, alemães, holandeses, belgas e franceses gravarão o nome de Portugal na sua memória.
Depois dos caminhos cortados pelas bombas e das cidades sem luz dos Países Baixos e da França e da fome de Espanha, este país pacífico e sorridente e a comparativa quantidade de ruas iluminadas devem ter-lhes parecido terra de promissão.
Uma torrente de Miséria
Era uma vista extraordinária e patética a da fronteira portuguesa. A corrente humana juntava-se ali como se junta a água numa represa. As filas de carros, bicicletas, de peões e comboios carregados de gente estendiam-se pelas estradas do lado espanhol por milhas de comprimento.
Portugal encontrava-se pela primeira vez em face de um dos seus principais problemas de guerra. Como é que se devia fazer face a esta repentina invasão? A massa humana era constituída por todas as camadas sociais e continha toda a espécie de desventurados.
Havia Rolls Royce e Cadillacs cujos donos traziam consigo as suas recheadas bolsas. Automóveis microscópicos de todas as marcas, muitíssimo carregados de seres e bagagens, transportavam pessoas cujos magros pecúlios já tinham sido gastos.
Refugiados a pé e de comboio, que tinham passado meses a fugir dum país atacado para outro e somente ouviam o passo implacável do inimigo atrás de si, eram quais fracas e enlameadas sombras do que tinham sido.
Era um problema de uma magnitude tal que nenhuma caridade individual podia resolver. Era um problema de repercussões internacionais que pôs todos os ministérios dos aliados em Portugal a trabalhar durante horas extraordinárias e que mudou todo o aspecto de Lisboa.
Os restos do naufrágio da guerra tinham sido arrastados para esta última e calma fortaleza da paz na Europa ocidental e a ameaça da guerra avançou muitas léguas na direcção da costa que quási olha o Continente Americano.
As causas que forçaram estes refugiados a transpor rapidamente a fronteira foram as mesmas que rapidamente fizeram com que Portugal ocupasse uma posição proeminente no mapa da Europa. Os próprios portugueses ficaram surpreendidos e não pouco perplexos quando o interesse internacional se debruçou sobre eles.
Por toda a parte os estrangeiros que se tinham acostumado a endereçar cartas para «Lisboa, Portugal, espanha» começaram a pegar nos seus Atlas e a estudar a geografia deste país rapidamente tornado importante. Ali encontraram eles uma unidade nacional na orla mais ocidental do continente europeu, possuindo o único grande porto atlântico que não está nas mãos dos alemães.
O último elo existente
Lisboa é, de facto, tanto por mar como pelo ar, o último elo existente entre a Europa e as Américas. Tornou-se a garganta de passagem de todos os refugiados que tentam salvar-se, de todo o correio que sai ou entra na Europa, das chegadas e partidas de diplomatas e generais, propagandistas e homens de negócios. É também uma das poucas fendas na muralha do bloqueio inglês. É teatro de inúmeras hostilidades secretas que não deixam de ser ásperas pelo facto de não derramarem sangue.
Foi em 1240 que se fundou Portugal e desde então manteve intacta a sua unidade nacional, à excepção de sessenta anos sob o domínio de Espanha, de 1580 a 1640. Isto faz de Portugal a unidade nacional mais antiga da Europa.
Decorrido um século após a fundação de Portugal, os portugueses foram, durante dois séculos os “leaders” do mundo Europeu. Os seus homens de ciência prepararam o caminho e os grandes marinheiros e capitães abriram horizontes novos à Europa e deram novo curso às energias das gentes europeias. Antes de Colombo ter concebido a sua viagem à India e que o levou à América por engano, os irmãos Côrte Reais tinham já deixado vestígios em Maryland.
Época Áurea
Além dos grandes descobridores, centenas de outros exploradores, aventureiros e padres portugueses penetraram no interior dos continentes africano e americano abrindo vias de comércio e estabelecendo a cultura portuguesa.
Foi uma idade áurea de progresso mas que para os portugueses terminou quási tão rapidamente como havia começado. O esforço físico violento destas façanhas esgotou o pequeno povo enquanto as grandes riquezas das conquistas minaram as forças morais e intelectuais dos seus dirigentes.
O facho que caiu das mãos enervadas dos portugueses foi apanhado pelos holandeses, pelos franceses e ingleses, e assim se formou o mundo que nós hoje vemos.
Pelos fins do século XVII Portugal tinha deixado de ser uma grande potência. No oriente apenas alguns farrapos ficaram do rico manto do Império. A África continuou abandonada.
Foi somente no Brasil, onde as riquezas podiam ser facilmente adquiridas, que os portugueses mostraram alguma vitalidade. Mas no decorrer dos tempos mesmo o Brasil se separou da Mãe-Pátria e os portugueses foram atirados principalmente para Moçambique e Angola.
Portugal sofre de uma recordação exagerada do seu grande passado. É simplesmente natural uma vez que o contraste entre os dias de D. João II e os registos da história mais recente é de ordem a encorajar a mentalidade que vive no passado. Isto parece, porém, um pouco ridículo aos olhos anglo-saxónicos.
As Festas Centenárias deste ano gritadas em altissonantes elogios próprios. Não contentes com a sua contribuição, todas as espécies de outras realizações foram juntas à lista de maneira que os portugueses surgem como uma espécie de super-homens.
Entretanto por detrás das fronteiras granadas e bombas estão abrindo um caminho por onde, se for necessário, marcharão as legiões conquistadoras. Contra estas o orgulho de Portugal deve desaparecer uma vez que o seu poder de resistência é menor do que o da maior parte dos outros países pequenos da Europa.
Porrtugal está hoje tanto sem defesa como tem estado durante os últimos duzentos anos da sua história. Não tem nada que pudesse opor às forças mecanizadas da guerra moderna. Não tendo nenhuma indústria própria, o seu equipamento tem sido adquirido em países que têm armas disponíveis. Como é natural, antes da guerra a Alemanha era o principal agente no mercado português de armamento. Câmbios estrangeiros eram valiosos para ela. A maneira mais fácil de as obter era impingir espingardas, canhões, aviões e equipamentos de segunda e terceira mão ao mais fraco dos pequenos Estados Europeus.
O exército português que podia contar quinhentos mil homens está aramado com espingardas de um velho modelo alemão. Para a defesa do país contra ataques aéreos há uma bateria de canhões antiaéreos fornecida pela Inglaterra e alguns aeroplanos alemães antiquados.
As suas baterias de costa são constituídos por canhões comprados à Inglaterra depois da guerra sul-africana. Campos de aviação, quer militares quer civis, são muito poucos.
Hoje, como no passado, a única protecção que Portugal poderia esperar contra a invasão das suas fronteiras terrestres deve vir da Inglaterra. A certeza desta protecção tem sido a âncora da política externa de Portugal quási sem interrupção desde há mais de quinhentos anos para cá.
É significativo que enquanto há um ministro da Guerra português e um Ministério da Guerra, não há nenhum secretário da Marinha posto que o Império Colonial de Portugal dependa do mar no que diz respeito à sua segurança. O almirantado português está em Whitehall.
(PM, 4 de Dezembro de 1940)
O jornalista explicaria mais tarde que tinha escrito apenas um longo artigo, que o jornal terá decidido dividir em três partes distintas.
Os títulos, as entradas e os entretítulos também são da responsabilidade dos editores do periódico.
Foi publicado no dia 4 de Dezembro de 1940 e traça um retrato de Lisboa e dos portugueses, faz um resumo das histórias do país durante os descobrimentos e desde os princípios do século XX, até aos anos 40. Refere a chegada de milhares de refugiados e deixa ainda algumas reflexões sobre a situação militar…
PORTUGAL TEM DE DEPENDER DA MARINHA INGLESA
O último elo livre entre a Europa e as Américas.
Portugal torna-se campo de batalhas secretas de propagandas.
Por W.E. Lucas
Lisboa: Diz-se que Lisboa é a única cidade na Europa onde uma pessoa pode ser atropelada por um carro no passeio. Não nos devemos também esquecer disto ao passarmos pela rua do arsenal ou ao descermos a R. de S. Pedro de Alcântara onde os salva vidas do eléctricos quais roçam, como o carro de Bodicea, pelos tornozelos dos peões.
Há também outras singularidades nesta linda cidade que se aglomera sobre as suas sete colinas nas margens do Tejo. Carros puxados a mulas e bois passam fazendo barulho pelos sítios em que se encontram lojas da moda. Peixeiras, transportando à cabeça as canastras gotejantes, gritam os seus agudos pregões tanto pelas ruas dos ricos como dos pobres. Burricos, muito carregados com cabazes cheios de hortaliça, vagueiam pacientemente por entre o tráfico enquanto os seus donos regateiam e discutem com os fregueses.
Durante todo o dia e quási até ao romper da manhã, os cafés do Rossio e por toda a parte da cidade estão cheios dos seus frequentadores que não se cansam de discutir. Rapazitos, velhos andrajosos, rufiões roucos e de barba por fazer metem à cara de quem passa os bilhetes da Lotaria. Automóveis buzinando fortemente e produzindo sons ásperos passam a toda a pressa pelas ruas mais estreitas de tal modo que, diz-se, o sr. Malcom Campell afirmou que guiar em Lisboa era coisa muito perigosa para ele.
Lisboa é um cidade de barulho, de barulho tão insistente que os ruídos de New York ou de Londres, comparados com ele, parecem o silêncio da morte.
Duas Revoluções por mês
Antes de 1926 pouco acontecia em Lisboa além das revoluções de 15 em 15 dias. Desde 1926 e depois da subida ao poder do dr. Salazar quási não tem havido perturbações desta natureza para quebrar a monotonia dos dias calmos. O Ditador de Portugal trocou o matraquear das metralhadoras e o estampido ocasional dos canhões de um forte ou de um barco de guerra surto no Tejo pela música de bandas ou pela marcha de disciplinados Legionários e Filiados da Mocidade.
Walter Lucas diz que os portugueses vivem "de uma recordação exagerada do seu grande passado".
(Foto: Revista do Ar, Novembro de 1937)
Há outras transformações notáveis entre aquele tempo e o dia de hoje. As ruas pavimentadas de pedras foram substituídas em muitos pontos por estradas alcatroadas; às disputas de deputados rivais sucedeu o aplauso bem ginasticado da Assembleia Nacional. Os bairros pobres que se formaram no decurso séculos foram substituídos por estradas novas e outras coisas agradáveis à comunidade.
Estas coisas são ainda novas em Portugal e uma caus de orgulho e admiração para os portugueses. Mas ainda hoje muitos dos mais velhos se sentam no cafés e conspiram em voz alta, enquanto os mais novos, lembrando o grande passado de Portugal, olham em frente com esperança para o futuro do seu país.
Durante os últimos catorze anos tem havido uma corrente íntima ou interior de expectativa. Portugal tem estado a readquirir gradualmente a sua dignidade nacional, muito embora mantena ainda velhos costumes do seu povo.
Com a rapidez de um tufão tudo isto mudou em Maio deste ano. Desde esta data Portugal, e especialmente Lisboa, tem estado a tomar com espantosa rapidez um vulto internacional de tal ordem que hoje, quatro meses depois, apresenta-se como qualquer coisa de extraordinário na Europa - É como um parente pobre que de um momento para outro se viu visitado por todos os seus primos ricos, alguns dos quais viessem pedir migalhas da sua mesa frugal.
A tragédia da Europa trouxe às ruas de Lisboa uma excitação passageira embora real, e ao seu povo uma enorme prosperidade. O avanço constante das legiões nazis deu a Portugal uma posição proeminente no mapa diplomático.
Assim como aquela Bloody Mary de Inglaterra, que tinha Calais impressa sobre o coração, muitos polacos, checos, alemães, holandeses, belgas e franceses gravarão o nome de Portugal na sua memória.
Depois dos caminhos cortados pelas bombas e das cidades sem luz dos Países Baixos e da França e da fome de Espanha, este país pacífico e sorridente e a comparativa quantidade de ruas iluminadas devem ter-lhes parecido terra de promissão.
Uma torrente de Miséria
Era uma vista extraordinária e patética a da fronteira portuguesa. A corrente humana juntava-se ali como se junta a água numa represa. As filas de carros, bicicletas, de peões e comboios carregados de gente estendiam-se pelas estradas do lado espanhol por milhas de comprimento.
Portugal encontrava-se pela primeira vez em face de um dos seus principais problemas de guerra. Como é que se devia fazer face a esta repentina invasão? A massa humana era constituída por todas as camadas sociais e continha toda a espécie de desventurados.
Havia Rolls Royce e Cadillacs cujos donos traziam consigo as suas recheadas bolsas. Automóveis microscópicos de todas as marcas, muitíssimo carregados de seres e bagagens, transportavam pessoas cujos magros pecúlios já tinham sido gastos.
Refugiados a pé e de comboio, que tinham passado meses a fugir dum país atacado para outro e somente ouviam o passo implacável do inimigo atrás de si, eram quais fracas e enlameadas sombras do que tinham sido.
Era um problema de uma magnitude tal que nenhuma caridade individual podia resolver. Era um problema de repercussões internacionais que pôs todos os ministérios dos aliados em Portugal a trabalhar durante horas extraordinárias e que mudou todo o aspecto de Lisboa.
Os restos do naufrágio da guerra tinham sido arrastados para esta última e calma fortaleza da paz na Europa ocidental e a ameaça da guerra avançou muitas léguas na direcção da costa que quási olha o Continente Americano.
As causas que forçaram estes refugiados a transpor rapidamente a fronteira foram as mesmas que rapidamente fizeram com que Portugal ocupasse uma posição proeminente no mapa da Europa. Os próprios portugueses ficaram surpreendidos e não pouco perplexos quando o interesse internacional se debruçou sobre eles.
Por toda a parte os estrangeiros que se tinham acostumado a endereçar cartas para «Lisboa, Portugal, espanha» começaram a pegar nos seus Atlas e a estudar a geografia deste país rapidamente tornado importante. Ali encontraram eles uma unidade nacional na orla mais ocidental do continente europeu, possuindo o único grande porto atlântico que não está nas mãos dos alemães.
O último elo existente
Lisboa é, de facto, tanto por mar como pelo ar, o último elo existente entre a Europa e as Américas. Tornou-se a garganta de passagem de todos os refugiados que tentam salvar-se, de todo o correio que sai ou entra na Europa, das chegadas e partidas de diplomatas e generais, propagandistas e homens de negócios. É também uma das poucas fendas na muralha do bloqueio inglês. É teatro de inúmeras hostilidades secretas que não deixam de ser ásperas pelo facto de não derramarem sangue.
Foi em 1240 que se fundou Portugal e desde então manteve intacta a sua unidade nacional, à excepção de sessenta anos sob o domínio de Espanha, de 1580 a 1640. Isto faz de Portugal a unidade nacional mais antiga da Europa.
Decorrido um século após a fundação de Portugal, os portugueses foram, durante dois séculos os “leaders” do mundo Europeu. Os seus homens de ciência prepararam o caminho e os grandes marinheiros e capitães abriram horizontes novos à Europa e deram novo curso às energias das gentes europeias. Antes de Colombo ter concebido a sua viagem à India e que o levou à América por engano, os irmãos Côrte Reais tinham já deixado vestígios em Maryland.
Época Áurea
Além dos grandes descobridores, centenas de outros exploradores, aventureiros e padres portugueses penetraram no interior dos continentes africano e americano abrindo vias de comércio e estabelecendo a cultura portuguesa.
Foi uma idade áurea de progresso mas que para os portugueses terminou quási tão rapidamente como havia começado. O esforço físico violento destas façanhas esgotou o pequeno povo enquanto as grandes riquezas das conquistas minaram as forças morais e intelectuais dos seus dirigentes.
O artigo de Walter Lucas assegura que as espingardas portuguesas são de um ultrapassado modelo alemão.
(Foto: Exercício Militar de Novembro de 1940, revista Defesa Nacional, Deazembro de 1940)
O facho que caiu das mãos enervadas dos portugueses foi apanhado pelos holandeses, pelos franceses e ingleses, e assim se formou o mundo que nós hoje vemos.
Pelos fins do século XVII Portugal tinha deixado de ser uma grande potência. No oriente apenas alguns farrapos ficaram do rico manto do Império. A África continuou abandonada.
Foi somente no Brasil, onde as riquezas podiam ser facilmente adquiridas, que os portugueses mostraram alguma vitalidade. Mas no decorrer dos tempos mesmo o Brasil se separou da Mãe-Pátria e os portugueses foram atirados principalmente para Moçambique e Angola.
Portugal sofre de uma recordação exagerada do seu grande passado. É simplesmente natural uma vez que o contraste entre os dias de D. João II e os registos da história mais recente é de ordem a encorajar a mentalidade que vive no passado. Isto parece, porém, um pouco ridículo aos olhos anglo-saxónicos.
As Festas Centenárias deste ano gritadas em altissonantes elogios próprios. Não contentes com a sua contribuição, todas as espécies de outras realizações foram juntas à lista de maneira que os portugueses surgem como uma espécie de super-homens.
Entretanto por detrás das fronteiras granadas e bombas estão abrindo um caminho por onde, se for necessário, marcharão as legiões conquistadoras. Contra estas o orgulho de Portugal deve desaparecer uma vez que o seu poder de resistência é menor do que o da maior parte dos outros países pequenos da Europa.
Porrtugal está hoje tanto sem defesa como tem estado durante os últimos duzentos anos da sua história. Não tem nada que pudesse opor às forças mecanizadas da guerra moderna. Não tendo nenhuma indústria própria, o seu equipamento tem sido adquirido em países que têm armas disponíveis. Como é natural, antes da guerra a Alemanha era o principal agente no mercado português de armamento. Câmbios estrangeiros eram valiosos para ela. A maneira mais fácil de as obter era impingir espingardas, canhões, aviões e equipamentos de segunda e terceira mão ao mais fraco dos pequenos Estados Europeus.
O exército português que podia contar quinhentos mil homens está aramado com espingardas de um velho modelo alemão. Para a defesa do país contra ataques aéreos há uma bateria de canhões antiaéreos fornecida pela Inglaterra e alguns aeroplanos alemães antiquados.
As suas baterias de costa são constituídos por canhões comprados à Inglaterra depois da guerra sul-africana. Campos de aviação, quer militares quer civis, são muito poucos.
Hoje, como no passado, a única protecção que Portugal poderia esperar contra a invasão das suas fronteiras terrestres deve vir da Inglaterra. A certeza desta protecção tem sido a âncora da política externa de Portugal quási sem interrupção desde há mais de quinhentos anos para cá.
É significativo que enquanto há um ministro da Guerra português e um Ministério da Guerra, não há nenhum secretário da Marinha posto que o Império Colonial de Portugal dependa do mar no que diz respeito à sua segurança. O almirantado português está em Whitehall.
(PM, 4 de Dezembro de 1940)
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Conversas do "Aterrem em Portugal"…
O “Aterrem em Portugal!” vai ter um final de ano em inglês e um princípio de 2013 de amena cavaqueira em português…
Já na quarta-feira de manhã, por volta das 9.30 horas, é o livro, o blogue e o site que são tema aos microfones da Rádio Kiss FM, em Albufeira (ver e ouvir AQUI).
Quem conhece a rádio sabe que se trata de uma estação que emite em inglês e, por isso, a conversa vai acontecer nessa língua… Se existirem novas actualizações deixarei recado por aqui...
A 26 Janeiro, por volta das 15.30 horas, a conversa vai ser frente a frente. No Espaço Memória dos Exílios, no Estoril, vou falar um pouco sobre o livro, mas especialmente, sobre naquilo que aconteceu depois da sua publicação em 2008.
A criação do blogue e do site, permitiram – nos últimos quatro anos - o surgimento de novas histórias, muito mais fotografias e factos do aqueles revelados nas 300 páginas que foram para a gráfica há quatro anos.
Estou a fazer tudo para que tanto os que têm o livro, como aqueles que não o conhecem, consigam passar uma tarde interessante num espaço único em Portugal.
No Espaço Memória dos Exílios onde são especialmente recordados os milhares de pessoas que chegaram ao país na sequência da II Guerra Mundial. Fica no primeiro andar do posto correios do Estoril, um edifício dos anos 40, que se encontra junto à estrada marginal (ver AQUI)…
Sobre esta conversa no Estoril voltaremos a falar nas próximas semanas…
Carlos Guerreiro
Já na quarta-feira de manhã, por volta das 9.30 horas, é o livro, o blogue e o site que são tema aos microfones da Rádio Kiss FM, em Albufeira (ver e ouvir AQUI).
Quem conhece a rádio sabe que se trata de uma estação que emite em inglês e, por isso, a conversa vai acontecer nessa língua… Se existirem novas actualizações deixarei recado por aqui...
A 26 Janeiro, por volta das 15.30 horas, a conversa vai ser frente a frente. No Espaço Memória dos Exílios, no Estoril, vou falar um pouco sobre o livro, mas especialmente, sobre naquilo que aconteceu depois da sua publicação em 2008.
A criação do blogue e do site, permitiram – nos últimos quatro anos - o surgimento de novas histórias, muito mais fotografias e factos do aqueles revelados nas 300 páginas que foram para a gráfica há quatro anos.
Estou a fazer tudo para que tanto os que têm o livro, como aqueles que não o conhecem, consigam passar uma tarde interessante num espaço único em Portugal.
No Espaço Memória dos Exílios onde são especialmente recordados os milhares de pessoas que chegaram ao país na sequência da II Guerra Mundial. Fica no primeiro andar do posto correios do Estoril, um edifício dos anos 40, que se encontra junto à estrada marginal (ver AQUI)…
Sobre esta conversa no Estoril voltaremos a falar nas próximas semanas…
Carlos Guerreiro
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
O correspondente em Lisboa
Começamos a publicação dos quatro artigos que levaram à expulsão do jornalista Walter Edward Lucas, com o artigo onde o director do PM, Ralph Ingersoll, apresenta o seu novo correspondente em Lisboa.
A publicação aconteceu a 3 de Dezembro de 1940 e o artigo pinta a cidade de Lisboa com cores muito próximas de um filme de mistério feito em Hollywood. Walter Lucas reconhecerá mesmo, durante os interrogatórios a que foi sujeito, que existiram exageros vários por parte do responsável da publicação.
Fica o artigo…
Berlim pode ser a cidade mais desanimada da Europa e Londres a mais inspiradora, mas Lisboa é a mais extraordinária.
É a única capital «livre» da Europa, a única capital em que um passaporte permite a entrada a pessoas de todas as nacionalidades e religiões e cor. O que não quere dizer que seja fácil entrar lá, mas que se pode lá entrar.
Aviões alemães com a cruz suástica na cauda e ingleses com discos brancos e azuis nos costados encontram-se lado a lado no aeroporto de Sintra.
Diariamente partem aviões para algures em Inglaterra, para Madrid, Barcelona, Roma, marselha, Sião, Stuttgart, Berlim, Tanger e, depois da Horta vulcânica, depois das censuras nas Bermudas, para o campo La Guardia de Nova York.
No restaurante Negresco, ao fundo da Avenida da Liberdade – que estavam para mudar para Avenida Imperial até que considerassem isso conveniente num mundo governado por Hiltler – no Negresco, que é o melhor restaurante, não há duas mesas em que se fale a mesma língua.
Nem também falam a mesma língua mais do que algumas pessoas das centenas que enchem a rua à porta do Quartel General da Gestapo portuguesa, e que ali estão ao sol, horas e horas, dias e dias, esperando ouvir se a polícia portuguesa está a escutar Berlim ou Londres nessa manhã.
Águas furtadas para generais
Lisboa, onde generais americanos dormem em águas furtados porque não conseguem um lugar no hotel. Onde Peixeiras ainda andam descalças com as canastras à cabeça – ao lado de táxis, ao lado de sinalagem luminosa que é tão recente e maravilhosa que ainda há multidões que param para ver a mudança das luzes de vermelho para verde.
Lisboa onde os candeeiros públicos são como jardins e as trepadeiras descem de pequenas caixas colocadas em janelas a dez pés de altura. Lisboa, onde começam a trabalhar às dez e terminam para conversar e dormir. Onde às onze saem das repartições para ir para o cafés ler os jornais em que não há nenhumas notícias porque, se os jornais dessem algumas, poderiam ofender os alemães ou os ingleses.
Lisboa, onde há apenas duas espécies de estrangeiros: pessoas com dinheiro e sem documentos, ou pessoas com documentos e sem dinheiro.
Lisboa, onde, quando os ingleses prenderam marinheiros holandeses por insubordinação, os alemães os levaram de avião para Berlim, na manhã seguinte, às oito horas. Lisboa, onde, quando estais à varanda de qualquer casa, vos mostram, apontando para o rio, o lugar em que os alemães fretaram o seu ancoradouro, onde vos levam à casa que o Estado Maior Alemão escolheu para seu uso.
Lisboa, onde o melhor jantar que podeis encontrar custa $1.50, precisamente o preço de uma escova de dentes que foi importada. Lisboa, por onde transferem secretamente os aviadores franceses que foram escondidos, como amigos, pelos ingleses e americanos. Lisboa, donde vão homens para morrer em frente dos pelotões executores em Espanha, donde vão sempre que terminou o tempo que lhes foi concedido para estar em Portugal e os portugueses lhes não prolongam a licença de estadia.
Os americanos não estão receber nenhumas notícias de Lisboa. Não estão a receber nenhumas notícias porque o Governo português está com muito medo de ofender seja quem for. Se escrevêsseis uma simples história acerca do tempo e a tentásseis passar para ser publicada no Sião, os censores portugueses teriam ataques histéricos.
«P.M.» não publicou mais notícias de Lisboa do que qualquer outro jornal. O noticiário Internacional do «P.M.» é fornecido pela United Press. Em Lisboa o representante da United Press não fala inglês. O número do seu telefone não está na lista. O seu escritório fica no quarto andar das traseiras de um prédio de uma rua secundária. O papel das paredes está a cair.
Porque creio que Lisboa é um dos lugares mais interessantes do mundo, quando lá estive procurei o homem que mais indicado estivesse para dar notícias de Lisboa aos leitores do «P.M.».
Encontrei-o na pessoa de W. E. Lucas, correspondente do «Times» de Londres, correspondente experimentado na América. Ainda não há muito anos que se encontra em Lisboa. A sua esposa é americana de Chicago.
O sr. W.E. Lucas é inteligente e impressionável. Não só conhece, mas sente a tragédia das pessoas que se encontram sós e privadas do seu direito civil, das pessoas com documentos e sem dinheiro, das pessoas que podem ser fuziladas em frente a um muro, na próxima semana, em Madrid, se alguma coisa se não fizer para o evitar. E sabe escrever.
Vive num Castelo
Porque Lisboa é Lisboa o sr. W. E. Lucas vive num castelo que arrendou, castelo esse que o Estado Maior Alemão escolheu para vir a ser o seu quartel general.
Quando o sr. W. E. Lucas tentou lá dar um baile parra arranjar dinheiro para os seus concidadãos ingleses, os alemães convenceram a Gestapo a mandar soldados com espingardas a-fim-de não deixar entrar os convidados.
O comandante de um cruzador americano ofereceu-lhe a charanga de bordo para tocar no baile. Os alemães levantaram com esse facto um incidente diplomático. Assim, a tripulação do cruzador cotizou-se para contratar uma banda de música local. Mas, depois de a banda ali ter chegado, apareceram soldados com espingardas ao portão para mandar embora os convidados e não houve baile.
O sr. Lucas não recebeu outras indicações sobre o que deve escrever se não dizer-nos o que se passa em Lisboa. Os seus primeiros artigos tratam das pessoas que ali se encontram e das suas histórias e esses trouxe-os comigo.
Espero que ele possa passar outros artigos através do Atlântico pelos Clippers. Não posso garantir que eles cheguem aos estados Unidos, mas enquanto cá chegaram, «P.M.» publicá-los-á. O seu primeiro artigo vai publicado nesta página.
PM, 3 de Dezembro de 1940
A publicação aconteceu a 3 de Dezembro de 1940 e o artigo pinta a cidade de Lisboa com cores muito próximas de um filme de mistério feito em Hollywood. Walter Lucas reconhecerá mesmo, durante os interrogatórios a que foi sujeito, que existiram exageros vários por parte do responsável da publicação.
Fica o artigo…
LISBOA, A EXTRAORDINÁRIA , É A ÚLTIMA CAPITAL LIVRE DA EUROPA
Apresentando o novo correspondente do P.M.
Por Ralph Ingersoll
Berlim pode ser a cidade mais desanimada da Europa e Londres a mais inspiradora, mas Lisboa é a mais extraordinária.
É a única capital «livre» da Europa, a única capital em que um passaporte permite a entrada a pessoas de todas as nacionalidades e religiões e cor. O que não quere dizer que seja fácil entrar lá, mas que se pode lá entrar.
Aviões alemães com a cruz suástica na cauda e ingleses com discos brancos e azuis nos costados encontram-se lado a lado no aeroporto de Sintra.
Diariamente partem aviões para algures em Inglaterra, para Madrid, Barcelona, Roma, marselha, Sião, Stuttgart, Berlim, Tanger e, depois da Horta vulcânica, depois das censuras nas Bermudas, para o campo La Guardia de Nova York.
No restaurante Negresco, ao fundo da Avenida da Liberdade – que estavam para mudar para Avenida Imperial até que considerassem isso conveniente num mundo governado por Hiltler – no Negresco, que é o melhor restaurante, não há duas mesas em que se fale a mesma língua.
Nem também falam a mesma língua mais do que algumas pessoas das centenas que enchem a rua à porta do Quartel General da Gestapo portuguesa, e que ali estão ao sol, horas e horas, dias e dias, esperando ouvir se a polícia portuguesa está a escutar Berlim ou Londres nessa manhã.
Águas furtadas para generais
Lisboa, onde generais americanos dormem em águas furtados porque não conseguem um lugar no hotel. Onde Peixeiras ainda andam descalças com as canastras à cabeça – ao lado de táxis, ao lado de sinalagem luminosa que é tão recente e maravilhosa que ainda há multidões que param para ver a mudança das luzes de vermelho para verde.
Lisboa onde os candeeiros públicos são como jardins e as trepadeiras descem de pequenas caixas colocadas em janelas a dez pés de altura. Lisboa, onde começam a trabalhar às dez e terminam para conversar e dormir. Onde às onze saem das repartições para ir para o cafés ler os jornais em que não há nenhumas notícias porque, se os jornais dessem algumas, poderiam ofender os alemães ou os ingleses.
Lisboa, onde há apenas duas espécies de estrangeiros: pessoas com dinheiro e sem documentos, ou pessoas com documentos e sem dinheiro.
Lisboa, onde, quando os ingleses prenderam marinheiros holandeses por insubordinação, os alemães os levaram de avião para Berlim, na manhã seguinte, às oito horas. Lisboa, onde, quando estais à varanda de qualquer casa, vos mostram, apontando para o rio, o lugar em que os alemães fretaram o seu ancoradouro, onde vos levam à casa que o Estado Maior Alemão escolheu para seu uso.
Ralph Ingersoll |
Os americanos não estão receber nenhumas notícias de Lisboa. Não estão a receber nenhumas notícias porque o Governo português está com muito medo de ofender seja quem for. Se escrevêsseis uma simples história acerca do tempo e a tentásseis passar para ser publicada no Sião, os censores portugueses teriam ataques histéricos.
«P.M.» não publicou mais notícias de Lisboa do que qualquer outro jornal. O noticiário Internacional do «P.M.» é fornecido pela United Press. Em Lisboa o representante da United Press não fala inglês. O número do seu telefone não está na lista. O seu escritório fica no quarto andar das traseiras de um prédio de uma rua secundária. O papel das paredes está a cair.
Porque creio que Lisboa é um dos lugares mais interessantes do mundo, quando lá estive procurei o homem que mais indicado estivesse para dar notícias de Lisboa aos leitores do «P.M.».
Encontrei-o na pessoa de W. E. Lucas, correspondente do «Times» de Londres, correspondente experimentado na América. Ainda não há muito anos que se encontra em Lisboa. A sua esposa é americana de Chicago.
O sr. W.E. Lucas é inteligente e impressionável. Não só conhece, mas sente a tragédia das pessoas que se encontram sós e privadas do seu direito civil, das pessoas com documentos e sem dinheiro, das pessoas que podem ser fuziladas em frente a um muro, na próxima semana, em Madrid, se alguma coisa se não fizer para o evitar. E sabe escrever.
Vive num Castelo
Porque Lisboa é Lisboa o sr. W. E. Lucas vive num castelo que arrendou, castelo esse que o Estado Maior Alemão escolheu para vir a ser o seu quartel general.
Quando o sr. W. E. Lucas tentou lá dar um baile parra arranjar dinheiro para os seus concidadãos ingleses, os alemães convenceram a Gestapo a mandar soldados com espingardas a-fim-de não deixar entrar os convidados.
O comandante de um cruzador americano ofereceu-lhe a charanga de bordo para tocar no baile. Os alemães levantaram com esse facto um incidente diplomático. Assim, a tripulação do cruzador cotizou-se para contratar uma banda de música local. Mas, depois de a banda ali ter chegado, apareceram soldados com espingardas ao portão para mandar embora os convidados e não houve baile.
O sr. Lucas não recebeu outras indicações sobre o que deve escrever se não dizer-nos o que se passa em Lisboa. Os seus primeiros artigos tratam das pessoas que ali se encontram e das suas histórias e esses trouxe-os comigo.
Espero que ele possa passar outros artigos através do Atlântico pelos Clippers. Não posso garantir que eles cheguem aos estados Unidos, mas enquanto cá chegaram, «P.M.» publicá-los-á. O seu primeiro artigo vai publicado nesta página.
PM, 3 de Dezembro de 1940
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Para ler mais sobre a expulsão de Walter Lucas clique AQUI.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Pedido de Natal
No Aterrem em Portugal já falámos de espionagem, do volfrâmio, de refugiados, de aviação, de costumes, de autores e de livros.
Trouxemos depoimentos, entrevistas, memórias e imagens daquele período que está tão perto, mas cada vez mais longe.
Trouxemos pequenas e grandes histórias e também algumas notícias …
Desde 2010 já colocamos on-line mais de 200 textos, e o ano que agora termina foi de grande actividade.
Nunca se tinha chegado, por exemplo, às três mil visitas num mês. Em Novembro ultrapassámos essa marca e subimos até às 4255.
Agradeço a companhia de todos e espero que continuem por aqui em 2013.
Para crescermos ainda mais gostaria de pedir a todos que nos próximos dias divulguem este blogue…
Contactem amigos que sabem ter interesse por estes temas, coloquem um post no vosso facebook falando do blogue, enviem alguns e-mails… enfim divulguem como entenderem.
Para facilitar deixo um texto que podem simplesmente copiar e colar…
“Durante a 2ª Guerra Mundial, Portugal foi um país central por onde passaram refugiados e espiões, onde se conspiraram destinos para o mundo, se fizeram e desfizeram fortunas. Tudo isto são histórias que pode encontrar no blogue “Aterrem em Portugal!”…
http://aterrememportugal.blogspot.pt/
Para não perder nenhuma das nossas histórias e actualizações encontra, na coluna do lado esquerdo, diversas formas para nos seguir. Utilize-as. Obrigado”.
Obrigado a todos os que por aqui passaram. Um bom Natal para todos e um excelente Ano Novo…
Carlos Guerreiro
Trouxemos depoimentos, entrevistas, memórias e imagens daquele período que está tão perto, mas cada vez mais longe.
Trouxemos pequenas e grandes histórias e também algumas notícias …
Desde 2010 já colocamos on-line mais de 200 textos, e o ano que agora termina foi de grande actividade.
Nunca se tinha chegado, por exemplo, às três mil visitas num mês. Em Novembro ultrapassámos essa marca e subimos até às 4255.
Agradeço a companhia de todos e espero que continuem por aqui em 2013.
Para crescermos ainda mais gostaria de pedir a todos que nos próximos dias divulguem este blogue…
Contactem amigos que sabem ter interesse por estes temas, coloquem um post no vosso facebook falando do blogue, enviem alguns e-mails… enfim divulguem como entenderem.
Para facilitar deixo um texto que podem simplesmente copiar e colar…
“Durante a 2ª Guerra Mundial, Portugal foi um país central por onde passaram refugiados e espiões, onde se conspiraram destinos para o mundo, se fizeram e desfizeram fortunas. Tudo isto são histórias que pode encontrar no blogue “Aterrem em Portugal!”…
http://aterrememportugal.blogspot.pt/
Para não perder nenhuma das nossas histórias e actualizações encontra, na coluna do lado esquerdo, diversas formas para nos seguir. Utilize-as. Obrigado”.
Obrigado a todos os que por aqui passaram. Um bom Natal para todos e um excelente Ano Novo…
Carlos Guerreiro
A expulsão de um jornalista
Nas próximas semanas o Aterrem em Portugal vai reservar o espaço ao processo de expulsão do jornalista Walter Edward Lucas que, em finais de 1940, foi acusado de publicar um conjunto de artigos considerados “desprestigiantes” para o país num jornal americano chamado P.M. Daily.
Walter Lucas era correspondente em Lisboa do prestigiado “The Times”, de Londres, desde Setembro de 1939. Era ainda director do Anglo Portuguese News, um pequeno jornal para a comunidade britânica e que, segundo o processo elaborado pelos serviços de vigilância portugueses, era utilizado como ponta de lança para a divulgação da propaganda britânica no nosso país.
“Uma informação de origem inglesa diz que o único delegado especial que se encontra em Lisboa, é um Mr. Lucas, encarregado pelo Ministério das Informações de controlar os serviços de propaganda, mas sobre a superintendência da respectiva Embaixada. Parece que o mesmo Mr. Lucas tem a incumbência de promover a publicação de um jornal ilustrado para os portugueses, bem como a tradução dos mais importantes discursos dos homens públicos ingleses”, resume uma nota dos Serviços de Censura que se encontra no processo de expulsão conservado entre a correspondência do Arquivo Oliveira Salazar.
Em finais de 1940 Lucas elaborou também um longo artigo sobe a realidade portuguesa a pedido de Ralph Ingersoll, o editor do diário PM, editado em Brooklin. Este seguiu directamente para os EUA, não passando pela censura portuguesa. Já na redação o trabalho é dividido em três partes que são publicados nos dias 3, 4 e 5 de Dezembro.
Uma dia antes,a 2 de Dezembro, Ingersoll faz uma apresentação formal do novo correspondente do seu jornal, num texto linguagem, que podemos considerar, pelo menos em parte, algo fantasioso. Tece-lhe os maiores elogios mas entra também exageros não só sobre Lucas, mas também sobre a realidade portuguesa.
Ingersoll diz a certa altura, nesta apresentação, esperar que Lucas consiga “passar” mais alguns artigos através do Clippers. Ele estará disposto a publicara todos os que conseguirem chegar…
Com uma introdução deste tipo não é de estranhar que os serviços de censura tenham ficado de alerta e, antes do fim ano os três artigos de Lucas e a apresentação redigida por Ingersoll, estão traduzidos e na secretária de Salazar, de Agostinho Lourenço, responsável pela PVDE, e de António Ferro, responsável pelo Secretariado da Propaganda Nacional.
São realizados na PVDE dois interrogatórios e Lucas ainda elabora cartas de desculpas pelo sucedido, mas sem resultado. A sua ordem de expulsão é assinada pelo próprio director da PVDE, o capitão Agostinho Lourenço.
Há quem afirme que se tratou de um sinal de força de Salazar, para alertar todos os jornalistas estrangeiros do que poderia acontecer caso estes não cumprissem as regras.
Afinal Lucas pertencia ao “The Times”, um dos mais prestigiados diários ingleses e se o regime não tinha problemas em expulsá-lo, o mesmo poderia acontecer a qualquer outro.
A Lisboa tinham chegado nos meses anteriores correspondentes de todo o mundo, na busca de notícias que de outro modo seriam difíceis de obter.
A ocupação da França tinha empurrado milhares de pessoas para Portugal, e especialmente, para Lisboa. A chegada de novas gentes era contínua e com elas vinham também notícias do que se passava em França, na Holanda, na Bélgica e até na Alemanha.
A neutralidade do país permitia também a presença em simultâneo de diplomatas e aventureiros de todas as nacionalidades e tipos. A capital portuguesa era um dos mais interessantes locais do mundo para se ficarem a conhecer todos os mexericos da guerra… Obviamente muitas destas notícias tinham origem ou fundamentação duvidosa, como alguns repórteres desse tempo deixaram claro nas suas memórias, mas mesmo assim Lisboa era o sítio para se estar.
Todo este noticiário estava, no entanto, sob vigilância dos Serviços de Censura portugueses.
Antes de serem enviados através de cabo ou telégrafo para as redacções dos seus jornais no estrangeiro, os repórteres tinham, à semelhança dos periódicos portugueses, de sujeitar os seus trabalhos à censura.
Era um processo complicado pois, como poucos falavam outras línguas, os artigos tinham de ser traduzidos para português, antes de serem entregues. Se fosse necessário fazer nova versão, o processo tinha de ser repetido de novo até que existisse a aprovação formal dos homens do lápis azul.
Não é assim difícil entender a irritação do governo português para com estes artigos não censurados. Apesar de publicados nos Estados Unidos da América, nesta altura ainda neutro, sabia-se que era um país muito próximo dos britânicos e Salazar temia o gigante que se encontrava do outro lado do Atlântico.
Pelos retratos que fazem do país, e pelo facto de não terem sido sujeitos à censura, o “Aterrem em Portugal” vai transcrever os quatros artigos na totalidade. Tratam-se das versões traduzidas que fazem parte do processo que se encontra na Torre do Tombo, entre a correspondência de Salazar.
O primeiro artigo será publicado na próxima sexta-feira. Trata-se da “apresentação” do novo correspondente em Lisboa do PM. É claramente o mais fantasioso e, em certa medida, divertido dos três artigos pela forma quase hollywoodesca como se descreve Lisboa, afinal o cenário onde se movimenta Lucas.
Os restantes três artigos, assinados pelo jornalista Walter Edward Lucas, serão publicados no blogue nos dias 18, 20 e 26 de Dezembro.
Segundo declarações do próprio, durante os interrogatórios posteriores, tratava-se de apenas de um artigo que foi dividido em três partes.
Os títulos, os entretítulos e entradas terão sido feitas pela direcção do periódico. È pelo menos isso que assegura o correspondente em Lisboa.
Tratam-se de retratos interessantes do país e, mais que não seja, deixa as impressões de um estrangeiro que já se encontrava em Portugal há algum tempo, e que tinha contactos privilegiados para poder descrever as suas realidades.
No dia 28 de Dezembro terminamos esta série de artigos com um olhar sobre o processo – cartas, interrogatórios e despachos - que levaram à ordem de expulsão ainda antes do final do ano e á sua saída em Janeiro do ano seguinte.
Esperamos que esta série de trabalhos seja do vosso agrado,
Carlos Guerreiro
Para ler mais sobre a expulsão de Walter Lucas clique AQUI.
Depois da ocupação da França pelas tropas alemãs milhares de refugiados chegaram a Lisboa, trazendo notícias que todos os jornalistas do mundo procuravam.
(Foto: Revista do Ar, Dezembro de 1937)
Walter Lucas era correspondente em Lisboa do prestigiado “The Times”, de Londres, desde Setembro de 1939. Era ainda director do Anglo Portuguese News, um pequeno jornal para a comunidade britânica e que, segundo o processo elaborado pelos serviços de vigilância portugueses, era utilizado como ponta de lança para a divulgação da propaganda britânica no nosso país.
“Uma informação de origem inglesa diz que o único delegado especial que se encontra em Lisboa, é um Mr. Lucas, encarregado pelo Ministério das Informações de controlar os serviços de propaganda, mas sobre a superintendência da respectiva Embaixada. Parece que o mesmo Mr. Lucas tem a incumbência de promover a publicação de um jornal ilustrado para os portugueses, bem como a tradução dos mais importantes discursos dos homens públicos ingleses”, resume uma nota dos Serviços de Censura que se encontra no processo de expulsão conservado entre a correspondência do Arquivo Oliveira Salazar.
Em finais de 1940 Lucas elaborou também um longo artigo sobe a realidade portuguesa a pedido de Ralph Ingersoll, o editor do diário PM, editado em Brooklin. Este seguiu directamente para os EUA, não passando pela censura portuguesa. Já na redação o trabalho é dividido em três partes que são publicados nos dias 3, 4 e 5 de Dezembro.
Uma dia antes,a 2 de Dezembro, Ingersoll faz uma apresentação formal do novo correspondente do seu jornal, num texto linguagem, que podemos considerar, pelo menos em parte, algo fantasioso. Tece-lhe os maiores elogios mas entra também exageros não só sobre Lucas, mas também sobre a realidade portuguesa.
Ingersoll diz a certa altura, nesta apresentação, esperar que Lucas consiga “passar” mais alguns artigos através do Clippers. Ele estará disposto a publicara todos os que conseguirem chegar…
Com uma introdução deste tipo não é de estranhar que os serviços de censura tenham ficado de alerta e, antes do fim ano os três artigos de Lucas e a apresentação redigida por Ingersoll, estão traduzidos e na secretária de Salazar, de Agostinho Lourenço, responsável pela PVDE, e de António Ferro, responsável pelo Secretariado da Propaganda Nacional.
São realizados na PVDE dois interrogatórios e Lucas ainda elabora cartas de desculpas pelo sucedido, mas sem resultado. A sua ordem de expulsão é assinada pelo próprio director da PVDE, o capitão Agostinho Lourenço.
Há quem afirme que se tratou de um sinal de força de Salazar, para alertar todos os jornalistas estrangeiros do que poderia acontecer caso estes não cumprissem as regras.
Afinal Lucas pertencia ao “The Times”, um dos mais prestigiados diários ingleses e se o regime não tinha problemas em expulsá-lo, o mesmo poderia acontecer a qualquer outro.
A Lisboa tinham chegado nos meses anteriores correspondentes de todo o mundo, na busca de notícias que de outro modo seriam difíceis de obter.
A ocupação da França tinha empurrado milhares de pessoas para Portugal, e especialmente, para Lisboa. A chegada de novas gentes era contínua e com elas vinham também notícias do que se passava em França, na Holanda, na Bélgica e até na Alemanha.
A neutralidade do país permitia também a presença em simultâneo de diplomatas e aventureiros de todas as nacionalidades e tipos. A capital portuguesa era um dos mais interessantes locais do mundo para se ficarem a conhecer todos os mexericos da guerra… Obviamente muitas destas notícias tinham origem ou fundamentação duvidosa, como alguns repórteres desse tempo deixaram claro nas suas memórias, mas mesmo assim Lisboa era o sítio para se estar.
Todo este noticiário estava, no entanto, sob vigilância dos Serviços de Censura portugueses.
Antes de serem enviados através de cabo ou telégrafo para as redacções dos seus jornais no estrangeiro, os repórteres tinham, à semelhança dos periódicos portugueses, de sujeitar os seus trabalhos à censura.
Era um processo complicado pois, como poucos falavam outras línguas, os artigos tinham de ser traduzidos para português, antes de serem entregues. Se fosse necessário fazer nova versão, o processo tinha de ser repetido de novo até que existisse a aprovação formal dos homens do lápis azul.
Não é assim difícil entender a irritação do governo português para com estes artigos não censurados. Apesar de publicados nos Estados Unidos da América, nesta altura ainda neutro, sabia-se que era um país muito próximo dos britânicos e Salazar temia o gigante que se encontrava do outro lado do Atlântico.
Pelos retratos que fazem do país, e pelo facto de não terem sido sujeitos à censura, o “Aterrem em Portugal” vai transcrever os quatros artigos na totalidade. Tratam-se das versões traduzidas que fazem parte do processo que se encontra na Torre do Tombo, entre a correspondência de Salazar.
O primeiro artigo será publicado na próxima sexta-feira. Trata-se da “apresentação” do novo correspondente em Lisboa do PM. É claramente o mais fantasioso e, em certa medida, divertido dos três artigos pela forma quase hollywoodesca como se descreve Lisboa, afinal o cenário onde se movimenta Lucas.
Os restantes três artigos, assinados pelo jornalista Walter Edward Lucas, serão publicados no blogue nos dias 18, 20 e 26 de Dezembro.
Segundo declarações do próprio, durante os interrogatórios posteriores, tratava-se de apenas de um artigo que foi dividido em três partes.
Os títulos, os entretítulos e entradas terão sido feitas pela direcção do periódico. È pelo menos isso que assegura o correspondente em Lisboa.
Tratam-se de retratos interessantes do país e, mais que não seja, deixa as impressões de um estrangeiro que já se encontrava em Portugal há algum tempo, e que tinha contactos privilegiados para poder descrever as suas realidades.
No dia 28 de Dezembro terminamos esta série de artigos com um olhar sobre o processo – cartas, interrogatórios e despachos - que levaram à ordem de expulsão ainda antes do final do ano e á sua saída em Janeiro do ano seguinte.
Esperamos que esta série de trabalhos seja do vosso agrado,
Carlos Guerreiro
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
O processo de expulsão de um jornalista
Walter Lucas era correspondente do diário britânico “The Times” em Lisboa e foi expulso pelo regime de Salazar em 1941, depois de publicar uma série de artigos num jornal americano, sem visto da censura…
Vamos conhecer, a partir de amanhã, as reportagens que ditaram a sua expulsão e os contornos do processo liderado pela PVDE e pela SPN…
Os artigos foram publicados no “PM Daily”, um jornal com sede em Brooklyn, e lançavam um olhar sobre os pontos fortes e fracos do país e do regime.
Os artigos foram considerados um desprestígio para o país e o processo de expulsão foi concluído em poucos dias…
Vamos conhecer, a partir de amanhã, as reportagens que ditaram a sua expulsão e os contornos do processo liderado pela PVDE e pela SPN…
Os artigos foram publicados no “PM Daily”, um jornal com sede em Brooklyn, e lançavam um olhar sobre os pontos fortes e fracos do país e do regime.
Os artigos foram considerados um desprestígio para o país e o processo de expulsão foi concluído em poucos dias…
«Escaparate de Utilidades»
SALDOS PRINCESA DAS MEIAS
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Sugestões para fim-de-semana chuvoso
Com os dias a convidar pouco a saídas, ficam sugestões para leitura…
Na National Geographic duas páginas contam a história do “SS Dago”, um navio britânico que foi afundado por um avião alemão em águas portuguesas durante a 2ª Guerra Mundial.
O artigo foi escrito por Jorge Russo, um dos mergulhadores que integrou a equipa que localizou e identificou o navio.
Este grupo reuniu ainda vasto material documental e fotográfico sobre os acontecimentos do dia 15 de Março de 1942.
Em Março a equipa apresentou os resultados deste esforço em Lisboa, numa iniciativa que juntou especialmente mergulhadores, mas que justificava ser um pouco mais alargada (ver AQUI).
Também para ler fica a sugestão de um livro lançado esta semana, no Museu da Marinha, e cuja acção gira em volta do acidente com o Yankee Clipper no Rio Tejo, em Fevereiro de 1943.
A história de ficção é da autoria de José Guedes, um ex-piloto da TAP, que tem nos enormes hidroaviões da Pan Am, uma das suas paixões (ver mais sobre este livro AQUI).
De resto há muitos mais livros que abordam temas da 2ª Guerra Mundial no nosso país. Da espionagem ao Volfrâmio, dos refugiados à aviação há muito por escolher.
A lista de livros do "Aterrem em Portugal!", pode ser encontrada AQUI.
Um bom fim-de-semana
Carlos Guerreiro
Na National Geographic duas páginas contam a história do “SS Dago”, um navio britânico que foi afundado por um avião alemão em águas portuguesas durante a 2ª Guerra Mundial.
A versão portuguesa traz um trabalho sobre as operações que levaram à identificação do SS Dago, um navio afundado por um avião em 1942.
O artigo foi escrito por Jorge Russo, um dos mergulhadores que integrou a equipa que localizou e identificou o navio.
Este grupo reuniu ainda vasto material documental e fotográfico sobre os acontecimentos do dia 15 de Março de 1942.
Em Março a equipa apresentou os resultados deste esforço em Lisboa, numa iniciativa que juntou especialmente mergulhadores, mas que justificava ser um pouco mais alargada (ver AQUI).
Também para ler fica a sugestão de um livro lançado esta semana, no Museu da Marinha, e cuja acção gira em volta do acidente com o Yankee Clipper no Rio Tejo, em Fevereiro de 1943.
A história de ficção é da autoria de José Guedes, um ex-piloto da TAP, que tem nos enormes hidroaviões da Pan Am, uma das suas paixões (ver mais sobre este livro AQUI).
De resto há muitos mais livros que abordam temas da 2ª Guerra Mundial no nosso país. Da espionagem ao Volfrâmio, dos refugiados à aviação há muito por escolher.
A lista de livros do "Aterrem em Portugal!", pode ser encontrada AQUI.
Um bom fim-de-semana
Carlos Guerreiro
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Guerra levou gibraltinos para a Madeira
Nos princípios da 2ª Guerra Mundial cerca de dois mil gibraltinos foram deslocados para a Madeira.
Em 1940 Gibraltar foi transformada em base militar e 14 mil civis, considerados não essenciais, foram obrigados a abandonar as suas casas e deslocados para outras paragens até ao final do conflito.
A Antena1, apresentou na última semana, no programa “Este Sábado”, da jornalista Rosário Lira, uma reportagem com os testemunhos de dois destes gibraltinos que viveram a guerra num ambiente “de turismo” naquela ilha portuguesa.
Ficam duas versões do trabalho. Por razões editoriais foi dobrada uma das personagens. Para os ouvintes deste blogue deixo também a versão não dobrada da mesma reportagem. Entendo que foca com um colorido diferente.
É a última reportagem que editei para a Antena1, pelo menos nesta fase, da minha vida. A sonorização é do Carlos Felgueiras, a voz da dobragem do José Manuel Rosendo.
Para quem quiser sabe mais sobre a evacuação de Gibraltar e dos destinos destas 14 mil pessoas, recomendo um livro – em inglês – cujas receitas revertem para a luta contra o cancro da mama que é bastante interessante e reúne as histórias e dezenas de fotografias deste momento particular da história daquela população…
Bilhetes para os autocarros
que transportavam as crianças até à escola
dos gibraltinos na ilha.
(Agradecimento a Joe Gingell, “We Thank God and England”)
O Livro
"We Thank God and England" é o resultado de várias entrevistas com deslocados de Gibraltar para a Madeira, Inglaterra e Jamaica.
São quase 500 páginas repletas de fotografias e informação. A passagem pela Madeira representa mais de 40 páginas deste trabalho. Há ainda dezenas de fotografias.
No livro pode-se encontrar ainda informação sobe os navios envolvidos nas diversas operações de deslocação da população. O livro faz ainda um resumo do historial de Gibraltar…
Este livro é um trabalho de memória, mas também de amor.
Joe Gingell foi também um dos deslocados – esteve em Inglaterra – e a livro é dedicada à filha, que faleceu devido a cancro da mama.
O desafio para reunir num livro as toneladas de informação que Gingell juntara ao longo da vida foi lançado pela filha, numa altura em que esta já lutava contra a doença.
Terminada a obra e, apesar da morte, Joe avançou para a publicação e as verbas reunidas destinam-se a financiar estudos que ajudem a combater o cancro.
A primeira edição já esgotou, mas está já a ser preparada uma segunda, ainda com mais fotografias e informações...
Cada cópia custa 20 Libras, mais portes e podem ser pedidos directamente a Joe Gingell em joegingell@gibtelecom.net .
Descontraia e divirta-se
Carlos Guerreiro
Em 1940 Gibraltar foi transformada em base militar e 14 mil civis, considerados não essenciais, foram obrigados a abandonar as suas casas e deslocados para outras paragens até ao final do conflito.
A Antena1, apresentou na última semana, no programa “Este Sábado”, da jornalista Rosário Lira, uma reportagem com os testemunhos de dois destes gibraltinos que viveram a guerra num ambiente “de turismo” naquela ilha portuguesa.
Foto de grupo das crianças gibraltinas que frequentavam a escola na Madeira. As aulas para os mais velhos eram asseguradas por professores profissionais que também faziam parte dos deslocados. Os mais novos recebiam aulas de pessoas com formação e educação, mas que não eram professores.
(Agradecimento a Joe Gingell, “We Thank God and England”)
É a última reportagem que editei para a Antena1, pelo menos nesta fase, da minha vida. A sonorização é do Carlos Felgueiras, a voz da dobragem do José Manuel Rosendo.
As duas versões da reportagem. A primeira não está dobrada. A outra tem a versão que passou na Antena1.
Foi um verdadeiro prazer a direcção de informação da rádio pública ter permitido a minha ida a Gibraltar para me encontrar pessoalmente com estas pessoas. Deixo algumas imagens que captei enquanto realizava a reportagem e que julgo interessantes para completar a história.
Para quem quiser sabe mais sobre a evacuação de Gibraltar e dos destinos destas 14 mil pessoas, recomendo um livro – em inglês – cujas receitas revertem para a luta contra o cancro da mama que é bastante interessante e reúne as histórias e dezenas de fotografias deste momento particular da história daquela população…
Os protagonistas da reportagem da Antena1.
Em cima Louis Pereira. A fotografia mais antiga foi tirada na Madeira. Louis encontra-se atrás, à direita e está com amigos, no momento em que todos se alistavam no exército britânico em 1944.
Muriel Lima. Na fotografia mais antiga é a criança que se encontra à frente.
Louis Pereira a consultar as avarias pastas que, no Arquivo Histórico de Gibraltar, contam a história da sua evacuação durante a 2ª Guerra Mundial.
Capa e uma das páginas da lista de Passageiros do Neurália, que em 1940 levou mais de 1200 pessoas até à Madeira.
Bilhetes para os autocarros
que transportavam as crianças até à escola
dos gibraltinos na ilha.
(Agradecimento a Joe Gingell, “We Thank God and England”)
O Livro
"We Thank God and England" é o resultado de várias entrevistas com deslocados de Gibraltar para a Madeira, Inglaterra e Jamaica.
São quase 500 páginas repletas de fotografias e informação. A passagem pela Madeira representa mais de 40 páginas deste trabalho. Há ainda dezenas de fotografias.
No livro pode-se encontrar ainda informação sobe os navios envolvidos nas diversas operações de deslocação da população. O livro faz ainda um resumo do historial de Gibraltar…
Este livro é um trabalho de memória, mas também de amor.
Joe Gingell foi também um dos deslocados – esteve em Inglaterra – e a livro é dedicada à filha, que faleceu devido a cancro da mama.
O desafio para reunir num livro as toneladas de informação que Gingell juntara ao longo da vida foi lançado pela filha, numa altura em que esta já lutava contra a doença.
Terminada a obra e, apesar da morte, Joe avançou para a publicação e as verbas reunidas destinam-se a financiar estudos que ajudem a combater o cancro.
A primeira edição já esgotou, mas está já a ser preparada uma segunda, ainda com mais fotografias e informações...
Cada cópia custa 20 Libras, mais portes e podem ser pedidos directamente a Joe Gingell em joegingell@gibtelecom.net .
Descontraia e divirta-se
Carlos Guerreiro
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Algumas perguntas a José Guedes
É lançado esta tarde no Museu da Marinha o livro “Na Rota do Yankee Clipper”, da autoria de José Guedes (ver AQUI).
Trata-se de uma ficção baseada no acidente que em Fevereiro de 1943 aconteceu no Rio Tejo, quando um enorme Boing 314 não conseguiu amarar ficando completamente destruído (ver AQUI).
O avião vinha de Nova Iorque e trazia entre os passageiros jornalistas e artistas. Estes últimos vinham animar as tropas americanas estacionadas na Europa.
O Aterrem em Portugal fez algumas perguntas ao autor, José Guedes, ele próprio um piloto e um apaixonado por estes aparelhos que asseguraram as primeiras ligações transoceânicas no Atlântico.
Aterrem em Portugal - Que história podem os leitores encontrar neste livro?
José Guedes - O livro pretende fazer uma narrativa ficcionada da última viagem do Yankee Clipper. Foi criado um personagem, piloto da Aviação Naval portuguesa, que viaja a bordo e faz o relato na primeira pessoa de tudo aquilo a que assiste entre Nova Iorque até Lisboa.
Aterrem em Portugal - Porque escolheu o Clipper como palco central para a história deste livro?
José Guedes - Encontrei, por mero acaso, a notícia do acidente de Lisboa, que desconhecia em absoluto. Decidi saber mais, mergulhei nos jornais da época e depois não consegui parar. Até uma história de amor havia para contar.
Aterrem em Portugal - Pelo blogue que mantém percebe-se que tem um fascínio grande por estes aviões. Qual a razão desta sua ligação a este aparelho?
José Guedes - Fui piloto de aviões durante 36 anos (TAP). Era impossível não ficar fascinado com aquilo que o Boeing 314 representava na década de 40. Foi o primeiro aparelho comercial com capacidade transoceânica, o que fez com que o mundo ficasse bem mais pequeno. A palavra "viajar" passaria a ter um significado completamente diferente do que tinha até então.
Aterrem em Portugal - Como era viagem num destes aviões da América até à europa?
José Guedes - Um prodígio de navegação e aventura. Eram mais de 24 horas de viagem, sempre com problemas e desafios. Não posso contar muito mais sem correr o risco de retirar interesse ao livro.
Aterrem em Portugal - Há uma história real por detrás da acção do livro. O acidente no Tejo com o Yankee Cliper cheio de artistas americanos. Foi um desastre de grandes proporções para a época. Pode contar em poucas palavras o que aconteceu?
José Guedes - Foi um desastre de grandes proporções para a época. No entanto a imprensa portuguesa da época dá-lhe um tratamento relativamente discreto, devido ao controle exercido pelo Estado Novo e pelas circunstâncias decorrentes do facto de a II Grande Guerra estar em curso.
Aterrem em Portugal - Como descreveria o ambiente no Aeroporto Marítimo de Cabo Ruivo durante aqueles anos?
José Guedes - Quase não existiam passageiros portugueses a transitar por Cabo Ruivo. Mas por lá chegavam e partiam diplomatas, artistas, espiões, etc. E parte do "staff" de Cabo Ruivo tinha as suas próprias simpatias pelas potências em confronto, prestando informações frequentes a ambas as partes sobre os movimentos a que assistiam.
Boas Leituras
Carlos Guerreiro
... ler outras entrevistas com autores clique AQUI.
... ler mais sobre livros clique AQUI.
Trata-se de uma ficção baseada no acidente que em Fevereiro de 1943 aconteceu no Rio Tejo, quando um enorme Boing 314 não conseguiu amarar ficando completamente destruído (ver AQUI).
O avião vinha de Nova Iorque e trazia entre os passageiros jornalistas e artistas. Estes últimos vinham animar as tropas americanas estacionadas na Europa.
O Aterrem em Portugal fez algumas perguntas ao autor, José Guedes, ele próprio um piloto e um apaixonado por estes aparelhos que asseguraram as primeiras ligações transoceânicas no Atlântico.
Aterrem em Portugal - Que história podem os leitores encontrar neste livro?
José Guedes - O livro pretende fazer uma narrativa ficcionada da última viagem do Yankee Clipper. Foi criado um personagem, piloto da Aviação Naval portuguesa, que viaja a bordo e faz o relato na primeira pessoa de tudo aquilo a que assiste entre Nova Iorque até Lisboa.
Aterrem em Portugal - Porque escolheu o Clipper como palco central para a história deste livro?
José Guedes - Encontrei, por mero acaso, a notícia do acidente de Lisboa, que desconhecia em absoluto. Decidi saber mais, mergulhei nos jornais da época e depois não consegui parar. Até uma história de amor havia para contar.
Aterrem em Portugal - Pelo blogue que mantém percebe-se que tem um fascínio grande por estes aviões. Qual a razão desta sua ligação a este aparelho?
José Guedes - Fui piloto de aviões durante 36 anos (TAP). Era impossível não ficar fascinado com aquilo que o Boeing 314 representava na década de 40. Foi o primeiro aparelho comercial com capacidade transoceânica, o que fez com que o mundo ficasse bem mais pequeno. A palavra "viajar" passaria a ter um significado completamente diferente do que tinha até então.
Aterrem em Portugal - Como era viagem num destes aviões da América até à europa?
José Guedes - Um prodígio de navegação e aventura. Eram mais de 24 horas de viagem, sempre com problemas e desafios. Não posso contar muito mais sem correr o risco de retirar interesse ao livro.
Aterrem em Portugal - Há uma história real por detrás da acção do livro. O acidente no Tejo com o Yankee Cliper cheio de artistas americanos. Foi um desastre de grandes proporções para a época. Pode contar em poucas palavras o que aconteceu?
José Guedes - Foi um desastre de grandes proporções para a época. No entanto a imprensa portuguesa da época dá-lhe um tratamento relativamente discreto, devido ao controle exercido pelo Estado Novo e pelas circunstâncias decorrentes do facto de a II Grande Guerra estar em curso.
Aterrem em Portugal - Como descreveria o ambiente no Aeroporto Marítimo de Cabo Ruivo durante aqueles anos?
Boas Leituras
Carlos Guerreiro
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