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sábado, 30 de junho de 2012

Visita guiada ao Museu do Ar

Visita guiada ao Museu do Ar, em Sintra, que reabriu no dia 29 de Junho de 2012.

A reportagem foi transmitida no programa "Portugal em Directo", na Antena 1, no dia em que o espaço abriu as portas.



Como guias temos o director do Museu do Ar, coronel Antero Coutinho e o curador Mário Correia.

Bons voos
Carlos Guerreiro

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Para ler mais sobre o Museu do Ar clique AQUI.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Obrigado a todos

Pela primeira vez chegámos às 300 visitas, em apenas um dia,

 Desconheço as razões, mas a mensagem mais vista, com mais de 200 consultas, foi “Fatos de banho e a imoralidade de costumes”, que publiquei em Junho do ano passado (ver AQUI). Por volta do meio dia o número de visitantes chegou quase à centena…


Estatísticas do "Aterrem em Portugal", de 26 de Junho, pouco antes da meia noite...

Como forma de balanço posso ainda acrescentar que no primeiro mês de actividade deste blogue, em Junho de 2009, tive 239 visitas. Desde Fevereiro deste ano que o número de consultas mensal é ligeiramente superior a 2000…

Pode não parecer muito, mas para um blogue deste tipo, os números são muito interessantes.
 É bom saber que se é lido…

Para todos os que passaram por estas páginas e ajudaram a divulgar as suas histórias…

MUITO OBRIGADO…

Carlos Guerreiro

P.S. - Após a publicação desta mensagem fui informado que o súbito interesse no artigo referido e no blogue surgiu na sequência de um mail interno que circulou na estação de televisão SIC. Sei o nome do seu autor, mas não o conheço... Fica o meu obrigado para L.M. e espero que continue, com outros, a encontrar por aqui histórias de interesse.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Novos voos para o Museu do Ar

Um DC-3 Dacota com as cores da TAP e um Avro 631 “Cadet”, extremamente raro, são duas das novidades que o Museu do Ar, em Sintra, vai apresentar ao público na reabertura, marcada para o próximo dia 29.

O Dacota com as cores da TAP encontrava-se num hangar no Aeroporto de Lisboa. O transporte para Sintra foi feito de noite, num transporte especial, através do IC-19… uma dor de cabeça em termos de logística e um espectáculo para quem assistiu.


 O Dacota no Museu do Ar com as cores da TAP. 

O avião fez uma complicada viagem nocturna de 35 quilómetros, peloIC19 , entre o Aeroporto de Lisboa e o Museu em Sintra.
(Foto cedida por André Garcez)


O Dacota é um daqueles ícones da aviação e da II Guerra que qualquer museu só pode ter orgulho em ter no seu espólio. Em Portugal voaram no pós guerra com as cores da TAP e da FAP.

A versão militar ficou conhecida como C-47 Skytrain. Durante o conflito três aparelhos da força aérea americana aterraram em vários pontos do país e tiveram utilização posterior, integrando a frota da Direcção Geral da Aviação Civil e depois TAP:

- Douglas C-47A Skytrain com a matrícula 42-24171 em 20-09-1943 (Ver AQUI)
- Douglas C-47A Skytrain com a matrícula 43-15037 em  12-04-1944 (Ver AQUI)
- Douglas C-47A Skytrain com a matrícula 42-10093 em  17-07-1944 (Ver AQUI)

O Avro 631 “Cadet” é uma verdadeira raridade. Existirão apenas mais uma ou duas unidades deste tipo, algures na América do Sul e este exemplar tem uma história curiosa.

O Avro 631 "Cadet" era um aparelho para instrução de que existem raros exemplares no mundo.

Nos anos trinta a Aeronáutica Militar (AM) portuguesa quis adquirir um novo aparelho de instrução e foram escolhidos três aviões para testes. Um italiano, de que se perdeu o rastro. O Tiger Moth, que seria adoptado para instrução e o Avro 631.

Este último foi rejeitado mas o avião utilizado como “amostra” ficou por cá. Foi durante anos mantido em Sintra onde ficou conhecido como o avião do comandante, e mais tarde transitou para o hall do edifício do Estado Maior da Força Aérea, onde se manteve até há poucas semanas.

Agora fica acessível a todos os visitantes do museu, ao lado do seu "ex-concorrente", o Tiger Moth.

Para além destes dois novos aparelhos, dos anos 30 e 40, existem outras novidades da era do jacto ou réplicas de asas “sonhadas” há 500 anos que vão fazer as delícias dos visitantes. Um helicóptero Alouette em corte, utilizado na instrução de mecânicos nas OGMA, também atrairá certamente as atenções…



O JU-52 é outro aparelho icónico  que faz parte a colecção do Museu do Ar.






Em relação à época de entre guerras e II Guerra Mundial mantêm-se na colecção aparelhos que são ícones da aviação como o JU52, o Dragon Rapid - que assegurou das primeiras ligações comerciais entre Lisboa e Porto -  ou o Spitfire, que sofreu uma “operação plástica” para ficar idêntico aos voados pela AM…








Alguns aspectos do Spitfire durante a 
"Operação  Plástica" 
que o transformou num modelo 
utilizado pela 
Aeronáutica Militar Portuguesa. 
Também os pormenores 
do interior
 da cabine de pilotagem.
 




Para os menos atentos os portugueses voaram mais de uma centena de Spitfires a partir de 1943, mas nenhum deles sobreviveu…

O Museu do Ar assegurou, no entanto, um desses caças numa troca por um Bristol Beaufighter com a Africa do Sul.

A AM utilizou diferentes versões do aparelho, nomeadamente, as "Ia", "Vb" e "LF Vb", mas o adquirido pelo Museu era um "IX", versão que nunca voou com cores portuguesas…

A operação plástica teve como objectivo fazer essa reconversão…

Para outras informações sobre o Museu do Ar pode consultar a página de Facebook AQUI.

Já agora, entre os dias 29 de Junho (feriado em Sintra) e 1 de Julho (comemoração dos 60 anos  Força Aérea), a entrada é gratuita...

Para aceder ao programa da reabertura, basta clicar no local indicado em baixo.



Para ver  todo o 
programa e também 
parte das novidades 
clique AQUI.














Bons voos…
Carlos Guerreiro 


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Para ler mais 
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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Memórias do volfrâmio na primeira pessoa

São testemunhos de gente que viveu os tempos da corrida ao volfrâmio e que - felizmente - foram recolhidos em vídeo e tornados públicos.

O primeiro é do Tio José do Justino, realizado pela Valença TV, e o segundo de Lucina da Rocha Gomes, realizado por Guilherme Rösler de Carvalho, estudante da Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro (UTAD).

Aos autores destas recolhas os meus parabéns.

O áudio nem sempre é o melhor mas as histórias valem por si...


Tio José do Justino e as minas de volfrâmio

O Ti' José conta como se fazia e como eram divididos os lucros da exploração do volfrâmio na freguesia de Taião, concelho de Valença.

Conta também como se realizava a busca e venda clandestina do minério e como foi instalado um pelotão da GNR na zona, para controlar essas ilegalidades, e como se deram vários incidentes que causaram um morto…



Memórias do tempo do Volfrâmio 

A recolha das imagens e do testemunho de Lucina da Rocha Gomes foi feita por Guilherme Rösler de Carvalho.

Renascem as histórias das explorações mineiras britânicas e alemãs e as dificuldades que os trabalhadores enfrentavam.

Fala também dos preços que o volfrâmio alcançava, do medo de roubar minério e dos milhares de pessoas que trabalhavam nas explorações.

Desejos de bons momentos...
Carlos Guerreiro

terça-feira, 19 de junho de 2012

A “batalha” do volfrâmio em Alvarenga

“Não se teriam dado os acontecimentos se os agentes tivessem previsto, como deviam prever, que havia reacção, fossem prudentes, e se fizessem acompanhar de força para manter a ordem em caso de resistência e alteração dela”, salienta o relatório enviado pelo Governador Civil de Aveiro, José de Almeida Azevedo, ao Ministro do Interior em 13 de Maio de 1942.

O documento analisa uma tentativa de apreensão de volfrâmio que correu muito mal às autoridades, resultando num intenso tiroteio entre populares e “agentes da polícia ou fiscais” na freguesia de Alvarenga, concelho e Arouca.

Com este seguiu também para o Ministro Mário Pais de Sousa, um outro relatório, mais detalhado do presidente da autarquia.

 O Ministro do Interior, Mário Pais de Sousa, rodeado pelos governadores civis em 1942. 
(Mundo Gráfico, 15/10/1942)

A situação começara com a chegada de três homens que se diziam representantes de interesses ingleses, querendo adquirir até 20 toneladas de minério…

Eram liderados por um certo Castelo Branco, que teria conhecido José Joaquim Teles, residente da zona, numa deslocação ao Porto. Teles era um dos representantes dos donos do minério, que não eram mais do que parte importante da população da freguesia.

Apesar dos esforços, três dias depois, tinham sido reunidos apenas seis toneladas que seriam vendidas a cerca de 200$00 o quilo (1 Euro). Uma verdadeira fortuna tendo em conta que um dia trabalho no campo ou numa fábrica era pago entre os dez e os vinte escudos (cinco a dez cêntimos).

No último dia os compradores exibiram até uma mala cheia de notas, como garantia da seriedade das suas intenções. “Fez-se a amostragem e pesagem do referido minério – e, dele junto, os compradores informaram os vendedores de que tinham de mandar buscar as camionetas que se encontravam à distância para transporte do mesmo, as quais chegaram algum tempo depois”, continua o relatório do presidente da câmara de Arouca, António Almeida Brandão.


Tiros e Morte

“Juntamente com estas apareceram uns indivíduos que dizendo-se agentes ou fiscais declararam conjuntamente com os pretensos compradores, de pistola em punho, que o minério estava todo apreendido – e, que ia ser carregado nas camionetas. Surpreendidos com o facto, os vendedores opuseram-se à entrega do minério travando-se, então, uma violenta disputa entre eles e os agentes”, detalha Almeida Brandão.

Com as partes mais calmas, decide-se enviar uma delegação a Arouca para pedir conselho ao presidente da autarquia. A população põe em causa a legalidade da apreensão e pretende encontrar soluções que não passem pela apreensão do metal.

O regedor da freguesia e um agente seguem de automóvel. O primeiro ainda pede ao pai para este avisar o regedor substituto do problema, pretende que mobilize os cabos de polícia da zona para evitar que da crescente tensão resulte um mal maior.

O substituto está doente com uma broncopneumonia e nuca sairá de casa. Tudo se precipita…

As portas da igreja foram arrombadas – por desconhecidos, dirá o padre -, e os sinos tocam a rebate alertando o povo…

O toque traz também o presidente da Junta de Freguesia ao local onde “vários agentes se encontravam na estrada, de pistola em punho, para impedir que o povo, cada vez, em maior número, se aproximasse”.

Segue-se, nas palavras do presidente da câmara, a explicação de como a operação policial se transformou numa pequena batalha…

“Como o povo se aproximasse cada vez mais em maior número do local onde estava situada a casa do referido Teles e se encontrava o minério – exigindo ou pedindo a restituição do mesmo – do grupo de agentes que se tinham entrincheirado numa garagem anexa (…), partiram alguns tiros para o ar, e acto continuo o povo munido de espingardas caçadeiras, respondeu travando-se então vivo tiroteio entre ambas as partes”.

“Dois indivíduos que passavam perto do local onde os agentes estavam entrincheirados, e que vinham do seu trabalho, foram atingidos, pelos mesmos agentes, tendo um morte quasi instantânea e outro gravemente ferido, pelo que foi conduzido para o Hospital de Santo António, da cidade do Porto”.

“Durante o motim alguns populares, cuja identidade não pude averiguar, lançaram para o local onde os agentes se encontravam cartuchos de dinamite, vulgares, isto é, sem invólucro, pelo que os agentes, vendo que a situação se agravava, deitaram as armas ao chão, rendendo-se”.

Uns entregaram-se nas mãos da população, outros escaparam e seguiram para Arouca, onde pediram apoio à GNR e à PSP.

Um dos agentes precipitou-se por uma rua e deu de caras com José Pereira Pinto, professor primário da freguesia, que o acolheu em casa e “entregou no dia seguinte, livre de perigo, à Guarda Republicana”.







A GNR e a PSP tiveram mão pesada prendendo vários pessoas no dia seguinte ao tiroteio com as autoridades.
(Ilustração do Mundo Gráfico, 15/10/1942)

















Garante o Governador Civil que ele acabara de sair de casa alarmado pelo tiroteio o que não impediu que fosse preso porque – alega a polícia - teria “podido evitar o motim, como pessoa mais ilustrada e de preponderância da terra”.



Sossego em Alvarenga

No dia seguinte várias residências foram alvo de buscas por parte da GNR e da PSP que isolaram a freguesia.

São apreendidas espingardas caçadeiras e volfrâmio, “parte do qual teria sido anteriormente negociado e que foi retirado pelo povo no fim do motim”.

Para além do professor houve também outros residentes presos. O regedor, que se dirigira numa viatura com o agente para Arouca, foi um deles. O Governador Civil garante que, como aquele já não se encontrava no local, nada podia ter feito para evitar a situação, “não havendo motivo para a sua captura e detenção, a não ser por ser também possuidor de minério, e ter vendido algum do apreendido”.

Todas as pessoas envolvidas directamente nas negociações acabaram atrás das grades e outros terão seguido o mesmo caminho. Os relatórios da autarquia e do Governo Civil não dão números, mas reforçam a ideia de que as polícias não tiveram mão leve durante a operação…

Mas para estes responsáveis locais é muito clara a responsabilidade exclusiva dos agentes pelo que se passou...

O presidente da autarquia é enérgico na defesa da população. “A causa próxima do motim foi derivado dos vendedores terem sido enganados com promessas de compra que lhes pareceram absolutamente honestas e verdadeiras que em seguida não se verificou, resultando, tornar-se a apreensão referida, do conhecimento do povo que se solidarizou com os prejudicados, havendo quem desconfiasse tratar-se de um golpe de burlistas, para levarem o minério, facto este que não era a primeira vez que se verificava na freguesia”.

O Governador Civil, por seu lado, lembra que “da apreensão resulta a ruína de muita gente que tinha naquele minério toda a sua fortuna”, e também não deixa dúvidas sobre quem deve assacar com as culpas.

“Os acontecimentos, em resumo, não se dariam se a apreensão fosse casual (em trânsito ou ocasião em que não estivesse ninguém ou estivesse pouca gente) ou, no caso de preparada (foi preparada durante três dias) os apreensores tivessem tomado medidas preventivas contra quaisquer protestantes que surgissem”.

“Acabou-se por onde se devia principiar e a essa imprevidência, afinal, se devem as lamentáveis ocorrências” salienta, deixando um pedido: “Hoje há sossego em Alvarenga e esse sossego será completo, se voltarem aos seus lares as pessoas presas e já que pouco ou nada se remedeia”.

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Romance "O Rei do Volfrâmio"

Terminamos esta semana de livros dedicados ao tema volfrâmio com obra de ficção...

Fica a capa e uma nota sobre o "Rei do Volfrâmio", de Miguel Miranda, e também uma ligação a outro livro, que já foi alvo de atenção neste blogue.

Falamos do romance de Roberto Wilson, "Último acto em Lisboa (ver "Algumas Perguntas a Robert Wilson").

Do "Rei do Volfrâmio" pode ver também um "Book Trailer", uma apresentação em vídeo da obra...







"O Rei do Volfrâmio", 
de Miguel Miranda, 
foi editado 
pela Dom Quixote
em 2008, e 
tem o  
ISBN: 9789722035453 












 

Sinopse:

Na primeira metade do século XX, o mundo foi flagelado por guerras sucessivas, que causaram milhões de mortos, destruição e sofrimento.

Houve também quem prosperasse com o esforço bélico, como os volframistas. Portugal foi um dos principais exportadores de volfrâmio, durante a Guerra Civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial.

O enriquecimento súbito dos volframistas e a sua queda na penúria do pós-guerra são motivo para uma tese de doutoramento do investigador João de Deus.

Mergulhado numa conturbada vida amorosa, investiga o passado de Petrónio Chibante, o Rei do Volfrâmio, explorador da mina Paraíso, em Vilar das Almas.

O passado, convocado de forma estranha pela alma de Serafina Amásio, antes de abandonar o corpo, cruza-se com o presente, revivendo amores e desamores de cada época, no lugar recôndito de Vilar e por esse mundo fora.



O Rei do Volfrâmio é a saga de um país e das suas almas, vivendo de um passado faustoso e iluminado, sem canalizar forças para o futuro.

É uma reflexão sobre a diáspora e as gerações de novos párias.É também uma ode ao amor, nas suas mais diversas e estranhas formas. É ainda uma elegia aos que das fraquezas fizeram forças, em nome da razão.

Boas leituras
Carlos Guerreiro

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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Livro "O Estado Novo e o Volfrâmio"

O livro de hoje é de João Paulo Avelãs Nunes, professor auxiliar de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Para além de "O Estado Novo e o Volfrâmio (1933-1947)", Avelãs Nunes tem publicado vários artigos sobre este tema. Pode encontrar um desses trabalhos AQUI.

Até ao final do mês o "Aterrem em Portugal" vai publicar uma entrevista com o professor Avelãs Nunes, onde a questão da exploração do volfrâmio é abordada nas suas variadas vertentes.






 "O Estado Novo e o Volfrâmio (1933-1947)", foi editado em 2010, pela Editora Imprensa da Universidade de Coimbra. Pode adquirir um exemplar na Loja Virtual clicando AQUI.









Sinopse: 

Visa-se neste livro reconstituir e analisar a evolução do subsector luso do volfrâmio, quer na década de 1930 — etapa de crise e paulatina reativação —, quer ao longo dos anos quarenta, com destaque para o período da Segunda Guerra Mundial (fase de “euforia especulativa”).

Observa-se, ainda, a título de contextualização, o período que decorreu entre o início da mineração do tungsténio em Portugal continental (1871) e o promulgar da “Lei de Minas do Estado Novo” (Julho de 1930), passando pela Primeira Grande Guerra (1914-1918).

Sendo o volfrâmio um “metal estratégico”, presta-se a atenção às vertentes económica e social, cultural e ideológica, mas, também, política e diplomática do “objeto global” em causa.

Face à relevância atingida pelos concentrados de tungsténio ibérico, de 1941 a 1944, na “economia de guerra” dos Aliados e, sobretudo, do Terceiro Reich nacional-socialista, consideram-se, igualmente, a política externa e as conceções geoestratégicas da ditadura chefiada por António de Oliveira Salazar; as ligações do nosso país às problemáticas do “ouro nazi” e do Holocausto; o modo como, depois de 1945, foram encarados entre nós a “comunidade germânica” e os “bens alemães”.

Abordam-se, para terminar, as implicações da atividade extrativa ao nível do desenvolvimento local, regional e nacional; a presença ou a ausência do “volframista” e das “corridas ao tungsténio” na(s) nossa(s) memória(s) histórica(s).

Mau grado o facto de, nas décadas de 1930 e 1940, Portugal ter vivido em ditadura, evocam-se, tanto as conceções e a intervenção das chefias executivas do regime, como as da Igreja e da “ação social católica”, de associações patronais e de organizações de profissionais liberais ou assalariados, de instituições de investigação e de ensino superior, dos mass media e das “comunidades rurais” envolvidas, das oposições ao “fascismo luso”.

No plano internacional, remete-se, sobretudo, para a intervenção, nos âmbitos da gestão da “economia-mundo capitalista” e do conflito militar de 1939-1945, do Reino Unido e da França, da Alemanha e dos EUA, de Espanha.

Boas leituras
Carlos Guerreiro 

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terça-feira, 12 de junho de 2012

Volfro!, O caso de Arouca em livro

Chama-se "Volfro!" e é mais um livro sobre a questão do Volfrâmio, agora da autoria de José Miguel Leal da Silva.

Trata-se de um trabalho de não-ficção, editado pela Associação de Defesa do Património Arouquense, que poderá contactar para adquirir um exemplar.

O livro foi lançado em Agosto de 2011 e a Agência Lusa fez uma pequeno apontamento de reportagem sobre o tema, que aqui reproduzo.







"Volfro!", de José Miguel Leal da Silva,  pode ser adquirido através da Associação de Defesa do Património Arouquense, que pode contactar em direccao@adpa.pt











 
Arouca: Livro “Volfro!” recorda décadas da febre mineira para explicar caso "peculiar" da exploração local de volfrâmio

José Miguel Leal da Silva lançou esta semana o livro “Volfro!”, no qual relaciona a generalidade da corrida aos minérios com a situação concreta do concelho de Arouca, entre 1910 e 1960.

Com uma tiragem de 1.500 exemplares editados pela Associação de Defesa do Património Arouquense, o livro “Volfro! - Esboço de uma teoria geral do ‘rush’ mineiro - O caso de Arouca” tem por base a investigação que o autor desenvolveu em 2009 para a sua tese de mestrado em Antropologia e Movimentos Sociais, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

 “O livro faz uma aproximação antropológica ao fenómeno da corrida aos minérios e depois aplica-a ao caso do volfrâmio de Arouca. Considera os migrantes e as suas origens, e procura verificar as relações entre a comunidade local e o fenómeno em si”, explica Leal da Silva, à Lusa.

Esse relacionamento revela-se em dados como os da afluência dos mineiros ao hospital, a sua taxa de mortalidade, as epidemias registadas no concelho e vários aspetos jurídicos, como os casos que deram entrada em tribunal e as licenças de porta aberta emitidas para exploração de tabernas e outros locais onde esses migrantes se alimentavam.

Para Leal da Silva, trata-se de “dar uma ideia do que se passou em Arouca” nas décadas do chamado “ouro negro”, quando a exploração do volfrâmio no concelho se verificava em circunstâncias “tão peculiares” que há quem diga que o livro com o mesmo nome escrito por Aquilino Ribeiro foi inspirado na situação dessa localidade.

“Não tendo sido dos maiores produtores de volfrâmio do país, Arouca reuniu em si características perfeitamente singulares. Tinha minas afetas aos ingleses, minas afetas aos alemães — dois adversários de guerra - e tinha também minas independentes e uma grande atividade informal, clandestina”, assume o autor do livro.

O elemento químico volfrâmio é também chamado tungsténio e tem como símbolo químico a letra W, em referência à origem alemã da denominação: Wolf (lobo) associado a Rahm (espuma), o que se baseava na ideia inicial de que, antes de ser considerado minério, o volfrâmio tinha a reputação de “devorar” o estanho, dado o seu elevado ponto de fusão.

Esse é, aliás, um dos aspetos pelos quais os especialistas atribuem ao volfrâmio “propriedades extraordinárias”: tem o mais alto ponto de fusão, a 3.410 graus centígrados, é o metal com a menor expansão térmica e tem uma densidade elevadíssima, de 19,3 gramas por centímetro cúbico (enquanto a do ferro, por exemplo, se fica por 7,86).

Combinado com o carbono, o volfrâmio constitui o carboneto de tungsténio (WC), que é uma das ligas metálicas mais duras que se conhece, pelo que, em tempos de guerra, tinha três grandes aplicações: era usado em aços duros para fazer ferramentas de corte, em pontas perfurantes para armamento e em aços para blindagens anti-perfurantes de tanques.

Atualmente, é utilizado sobretudo como filamento de lâmpadas e em ligas de perfuradoras para prospeção de petróleo e para a indústria mineira.

Lusa

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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Volfrâmio de Aquilino Ribeiro

Não é muita a literatura que tem como tema as minas e a exploração volframista durante o período da II Guerra Mundial.

Existem, no entanto, algumas obras de ficção ou de carácter histórico que merecem destaque. No “Aterrem em Portugal” apresento um conjunto de livros e trabalhos académicos que podem ser adquiridos ou descarregados on-line de forma gratuita.

Durante esta semana poderá encontrar aqui uma sugestão de leitura por dia…

Se outros livros ou trabalhos existirem, que julguem merecer destaque, agradeço antecipadamente o contacto e as informações.






 O romance "Volfrâmio", 
de Aquilino Ribeiro, 
pode ser descarregado 
gratuitamente clicando  
AQUI. 










Para hoje deixo uma obra que pode ser "descarregada" on-line. Trata-se de “Volfrâmio” de Aquilino Ribeiro, editado pela primeira vez em 1944. Fica também uma passagem com a descrição de uma mina de volfrâmio em pleno funcionamento, através dos olhos de Aires, uma das personagens do romance…




 "Foi neste estado de espírito, quase cobardia, que, baixando da serra, entrou no braço de estrada que conduzia à exploração. 

Por ele fora marchavam isolados e em bandos, com a bolsinha pendurada do pau ou do pulso, homens mais andrajosos que ele no fito de retomar o trabalho, se não ajustar-se. 

De caminhos afluentes desembocavam mulheres com cestos à cabeça ou o seu molho de tangos, uma almotolia, encomendas das lojas, e entrevia-se nelas estas criaturas plurais que forjicam o bazulaque às maltas, as lavam e remendam, e ainda a tasqueira que abriu à margem da mina a baiuca de vinho, cigarros, petiscos e o resto.

 Andando, andando, chegou a um dédalo de caminhos, por um dos quais rolavam vagonetas, por outros ia e vinha o pessoal particular dos engenheiros e agentes técnicos, com as vivendas muito senhoris e claras à retaguarda de pequenas platibandas enfeitadas de pelargónios e eloendros. 

E, passos adiante, ao salvar a corcova do terreno, descobriu-se o formigueiro humano a seus olhos admirados, repartido em turmas consoante a natureza das tarefas, desprendendo uma barulheira a que era como abóbada o zunzum infernal dos volantes que se não viam. 

Até bem longe, quinhentos a mil metros, se via gente, mulheres que lavavam a terra mineralizada ao ar livre e debaixo de telheiros, braços arremangados, pés descalços, saia colhida entre os joelhos para a água não esperrinchar pelas pernas acima. 

Rapazotes, com boinas de homem, sem cor à força de usadas, a carne tenra a espreitar das camisas cheias de surro e em frangalhos, vinham baldear no monte o carrinho atestado de calhaus em que coruscavam com o sol as pirites e palhetas de volframina. 

Mais ao largo, grande caterva de homens abria uma trincheira, e outra, para o morro, levava um banco de pedra e saibro à ponta-de ferro e picareta. Aqui e além trabalhadores brocavam a rocha, enquanto a outros incumbia carregar os tiros de pólvora bombardeira. 

Crispados às varas dos sarilhos, muitos extraíam o resulho dos poços ou enxugavam-lhes a água para o trabalho prosseguir eficazmente. 

Era subterrânea, por vezes a dezenas de metros de profundidade, que se exercia a actividade capital da mina, com revólveres de ar comprimido a demolir o quartzo, piquetes de entivadores especializados a escorar as galerias, bombas eléctricas e manuais a sorver a água dos regueirões, escombreiros, mineiros de guilho e marreta, homens e mais homens à carga e à descarga - pessoal complexo, testo e sabido na manobra. 

À superfície era como um arraial. Por cima dos gritos, comandos, falas desencontradas, do retinir das ferramentas e estreloiçar das vagonas e raposas, o dínamo pulsava e a sua pancada mate, e ensurdecedora criava este tónus especial, sernibárbaro e feroz, da indústria moderna, homem e máquina conjugados. 

O Aires conhecia a Sobriga, não como assalariado, mas das rapiocas e visitas que ali fizera com outros curiosos. 

Não obstante, ao passar à beira da lavaria, em que estava integrado o transportador, com uma caradura brutesca em suas paredes a pique, altas e cegas, não deixou de estremecer de assombramento à ideia da obra de magia que ali se consumava: o calhau intonso convertido em farinha mineral, doce ao tacto e maravilhosa de propriedades.

 (…) 

Girava tudo, ou afigurou-se-lhe, a ritmo acelerado: homens e máquinas. As vagonas descarregavam o recheio da ribanceira para baixo, e logo esse montão de cascalho passava através da passadeira rolante para as mandíbulas de aço dos trituradores."

Boas leituras
Carlos Guerreiro

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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Volfrâmio, o nosso ouro negro

No dia 7 de Junho de 1944 o governo de Salazar expedia uma nota para os jornais informando a suspensão total da extracção e venda de volfrâmio, tanto aos aliados como aos alemães. A curta nota resultava de anos de pressão aliada, com o objectivo de interromper a exportação daquele metal para a Alemanha.

Era o regresso da questão do volfrâmio às páginas dos jornais depois de um silêncio que durava há quase três anos. Depois de uma acumulação de notícias que anunciavam uma corrida à exploração deste metal e muitas outras relatando assaltos, roubos ou simplesmente situações bizarras, os Serviços de Censura tinham cortado o mal pela raiz.

Nota do Governo, publicada no "Diário de Lisboa" de 7 de Junho de 1944.
(Fundação Mário Soares)

Em 24 de Março de 1941publicaram uma recomendação – que funcionava como uma ordem – onde deixava claro o futuro das notícias sobre o tema: “Não deve ser autorizada a publicação de mais nenhuma notícia relativa ao recente aparecimento de volfrâmio e aos esforços desenvolvidos pelos povos para o explorar”.

Mesmo assim, e nos meses seguintes, os jornais foram insistindo no tema. Os diversos serviços de censura espalhados pelo país foram cortando tudo ou quase tudo.

Só em 1941 pelo menos quatro notícias receberam o célebre corte a azul da Censura, ocultando os acontecimentos da maioria dos portugueses.

Em finais de Novembro uma quinta em Alijó, “na qual existia o cobiçado minério” foi assaltada por “um numeroso grupo de indivíduos, tendo cercado a casa do proprietário. Houve nutrido tiroteio com a GNR. Dos assaltantes foram presos vários, alguns evadiram-se e quatro foram feridos”.

Em Dezembro intensificam-se o número de casos.

Logo no princípio do mês há tumultos em Pinhel, logo a seguir os serviços de censura cortam o “pormenor” das autoridades terem sido obrigadas a utilizar metralhadoras numa notícia que refere “motins entre duas freguesias vizinhas por motivo de pesquisas de volfrâmio, tendo sido necessário a intervenção da força armada”. O relatório não especifica em que zona do país isto aconteceu.

Sobre o Natal dá-se o roubo de volfrâmio a bordo de um navio… em pleno Tejo. Ao longo dos anos relatórios oficiais de diversas autoridades falam mesmo num clima de “faroeste” que se vive nas zonas mineiras.

Num país com um desemprego galopante as minas absorvem milhares de homens e mulheres. Procuram um ordenado mais elevado que noutras actividades e, se for possível, roubar ou contrabandear alguns quilos de metal. Vale mais que o ouro… e o sentido desta expressão não é apenas literal.

Mas porque subiu tanto o valor do volfrâmio, transformando-se na principal exportação portuguesa ao longo da II Guerra Mundial?

Muito do ouro que se acumulou nos cofres do Banco de Portugal, atravessou a fronteira para pagar as toneladas de metal que saiam das minas para as fábricas de armamento.

A invasão da União Soviética, pelos alemães, tinha-lhes cortado o acesso a este metal essencial para a preparação de ligas blindadas para tanques e outros equipamentos.

Os projécteis capazes de as atravessar também precisavam dele. Portugal e Espanha eram dos poucos fornecedores com que a Alemanha podia contar ao longo daqueles anos.

Para impedir que todo o volfrâmio chegasse àquele país também a Inglaterra passou a comprar todo o que podia. Não que precisasse, pois recebia-o dos Estados Unidos.

Por esta razão, e em termos diplomáticos, a questão do volfrâmio nunca saiu da mesa de negociações ao longo de todo o conflito.

Entre os documentos reunidos na Torre do Tombo referentes àquele período encontra-se o rastro das conversações e pressões que foram surgindo ao sabor das vitórias e derrotas nos campos de batalha.

Desde cedo os aliados querem cortar os fornecimentos de volfrâmio oriundos de Portugal e de Espanha para encurtar a guerra. Primeiro os britânicos, depois os americanos e finalmente todos os outros entabulam conversações, pedem esclarecimentos e exigem o corte dos envios.

Salazar alega, enquanto neutral, que pode fazer negócios com ambas as partes. O jogo resulta durante grande parte da guerra enquanto empresas mineiras portuguesas, britânicas, alemãs e francesas intensificam a actividade.

Os preços continuam a subir. Disparam. As minas tornam-se centros de disputa. Rouba-se, contrabandeia-se o que se pode. Fazem-se e desfazem-se fortunas.

Para controlar as exportações, os preços e acalmar tentações o Governo cria a Comissão Reguladora do Comércio dos Metais, por onde passava todo o volfrâmio.

Esta Comissão recebia o minério de todas as minas e depois repartia-o consoante os acordos comerciais que o governo tinha estabelecido. Com o passar do tempo o fornecimento à Alemanha foi diminuindo, mas a pressão aliada não.

Prometem-se corte no fornecimento de mantimentos. Só não são mais fortes as ameaças porque Portugal já tinha cedido na questão dos Açores. Mas não se consegue resistir para sempre…

Os britânicos, tal como sucedeu nas negociações relativas aos Açores, apelam ao cumprimento da velha aliança.

Por sorte ou por intuição Salazar anuncia a sua decisão de acabar com a exploração e o fornecimento de volfrâmio em 5 de Junho… Estávamos na véspera do Dia D.

Carlos Guerreiro

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 Para ler mais sobre o tema do Volfrâmio clique AQUI.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Notícias do "Dia D"

Neste dia, em 1944, desembarcavam na Normandia milhares de soldados aliados, naquele que viria a ser conhecido como o "Dia D".

Apesar da censura os jornais portugueses dessa tarde já traziam notícias da invasão...

O "Aterrem em Portugal" deixa-lhe algumas páginas do vespertino "Diário de Lisboa" onde as notícias obrigaram ao lançamento de tiragens extraordinárias... (clique sobre as páginas para aumentar o seu tamanho)

















Três páginas da 2ª tiragem do Diário de Lisboa de 6 de Junho de 1944.

(As páginas do "Diário de Lisboa" foram acedidas através da Fundação Mário Soares)






Boas Leituras
Carlos Guerreiro