Existem, no entanto, algumas obras de ficção ou de carácter histórico que merecem destaque. No “Aterrem em Portugal” apresento um conjunto de livros e trabalhos académicos que podem ser adquiridos ou descarregados on-line de forma gratuita.
Durante esta semana poderá encontrar aqui uma sugestão de leitura por dia…
Se outros livros ou trabalhos existirem, que julguem merecer destaque, agradeço antecipadamente o contacto e as informações.

O romance "Volfrâmio",
de Aquilino Ribeiro,
pode ser descarregado
gratuitamente clicando
AQUI.
Para hoje deixo uma obra que pode ser "descarregada" on-line. Trata-se de “Volfrâmio” de Aquilino Ribeiro, editado pela primeira vez em 1944. Fica também uma passagem com a descrição de uma mina de volfrâmio em pleno funcionamento, através dos olhos de Aires, uma das personagens do romance…

Por ele fora marchavam isolados e em bandos, com a bolsinha pendurada do pau ou do pulso, homens mais andrajosos que ele no fito de retomar o trabalho, se não ajustar-se.
De caminhos afluentes desembocavam mulheres com cestos à cabeça ou o seu molho de tangos, uma almotolia, encomendas das lojas, e entrevia-se nelas estas criaturas plurais que forjicam o bazulaque às maltas, as lavam e remendam, e ainda a tasqueira que abriu à margem da mina a baiuca de vinho, cigarros, petiscos e o resto.
Andando, andando, chegou a um dédalo de caminhos, por um dos quais rolavam vagonetas, por outros ia e vinha o pessoal particular dos engenheiros e agentes técnicos, com as vivendas muito senhoris e claras à retaguarda de pequenas platibandas enfeitadas de pelargónios e eloendros.
E, passos adiante, ao salvar a corcova do terreno, descobriu-se o formigueiro humano a seus olhos admirados, repartido em turmas consoante a natureza das tarefas, desprendendo uma barulheira a que era como abóbada o zunzum infernal dos volantes que se não viam.
Até bem longe, quinhentos a mil metros, se via gente, mulheres que lavavam a terra mineralizada ao ar livre e debaixo de telheiros, braços arremangados, pés descalços, saia colhida entre os joelhos para a água não esperrinchar pelas pernas acima.
Rapazotes, com boinas de homem, sem cor à força de usadas, a carne tenra a espreitar das camisas cheias de surro e em frangalhos, vinham baldear no monte o carrinho atestado de calhaus em que coruscavam com o sol as pirites e palhetas de volframina.
Mais ao largo, grande caterva de homens abria uma trincheira, e outra, para o morro, levava um banco de pedra e saibro à ponta-de ferro e picareta. Aqui e além trabalhadores brocavam a rocha, enquanto a outros incumbia carregar os tiros de pólvora bombardeira.
Crispados às varas dos sarilhos, muitos extraíam o resulho dos poços ou enxugavam-lhes a água para o trabalho prosseguir eficazmente.
Era subterrânea, por vezes a dezenas de metros de profundidade, que se exercia a actividade capital da mina, com revólveres de ar comprimido a demolir o quartzo, piquetes de entivadores especializados a escorar as galerias, bombas eléctricas e manuais a sorver a água dos regueirões, escombreiros, mineiros de guilho e marreta, homens e mais homens à carga e à descarga - pessoal complexo, testo e sabido na manobra.
À superfície era como um arraial. Por cima dos gritos, comandos, falas desencontradas, do retinir das ferramentas e estreloiçar das vagonas e raposas, o dínamo pulsava e a sua pancada mate, e ensurdecedora criava este tónus especial, sernibárbaro e feroz, da indústria moderna, homem e máquina conjugados.
O Aires conhecia a Sobriga, não como assalariado, mas das rapiocas e visitas que ali fizera com outros curiosos.
Não obstante, ao passar à beira da lavaria, em que estava integrado o transportador, com uma caradura brutesca em suas paredes a pique, altas e cegas, não deixou de estremecer de assombramento à ideia da obra de magia que ali se consumava: o calhau intonso convertido em farinha mineral, doce ao tacto e maravilhosa de propriedades.
(…)
Girava tudo, ou afigurou-se-lhe, a ritmo acelerado: homens e máquinas. As vagonas descarregavam o recheio da ribanceira para baixo, e logo esse montão de cascalho passava através da passadeira rolante para as mandíbulas de aço dos trituradores."
Boas leituras
Carlos Guerreiro
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