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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Salvamentos realizados no Atlântico por navios mercantes portugueses

Pouco depois de se dispararam os primeiros tiros do viria a ser um conflito que se prolongou por cerca de seis anos os portugueses puderam assistir em primeira mão aos efeitos da guerra com a chegada a Lisboa do navio holandês “Eidanger”, no dia 6 de Setembro de 1939, trazendo a bordo os náufragos do cargueiro britânico “Bósnia”, afundado dias antes.

Vinte e quatro horas depois entrava também na capital o “Carvalho Araújo” e o holandês “Maars” trazendo respectivamente 16 e 30 tripulantes do “Manaar”, afundado também por um submarino alemão dias antes.
O paquete "Angola" recolheu de uma vez 43 náufragos britânicos e de outra
o tripulantes de um submarino alemão que estava doente.
A descrição da batalha que afundou o “Manaar”, a chegada dos náufragos a bordo dos navios holandês e português e o tratamento dado aos feridos mereceu ampla cobertura dos jornais da época, com a publicação de longas reportagens, ilustradas com várias fotografias. Durante toda a guerra será aliás assídua a atenção da imprensa para com os salvamentos protagonizados pela frota nacional, tanto civil como militar, e para com os náufragos – especialmente em Lisboa e nas ilhas atlânticas – apesar do espaço ocupado pelo noticiário ter diminuído ao longo do tempo.

Com algumas dezenas de navios a atravessar o Atlântico em direcção às Américas do norte e do sul, às ilhas adjacentes e às ex-colónias africanas, cresceu rapidamente o registo de salvamentos realizados, especialmente nas áreas dos Açores e de Cabo Verde.

Em algumas situações são encontrados várias dezenas de náufragos de uma só vez, sendo os mais significativos o caso do “Tarrafal” que, em maio de 1941, recolheu 85 homens da guarnição do britânico “Clan MacDougall”, nas imediações da ilha de Santo Antão, Cabo Verde; do “Sines” que, em Março de 1943, no regresso dos EUA, acolheu 71 sobreviventes do americano “Keystone”; do veleiro “Sultana” que em julho de 1941, também em Cabo Verde recolheu 51 homens do britânico “Auditor” ou do paquete “Angola” que a 4 de maio de 1941 encontrou 43 tripulantes do cargueiro britânico “Wray Castle”.

Há ainda registo para algumas situações curiosas.

Em 19 de Julho de de 1942 o San Miguel, durante uma viagem aos EUA, foi parado por um submarino alemão que ordenou uma inspecção aos documentos e à carga do navio. Enquanto decorria a fiscalização aproximaram-se duas baleeiras com 29 náufragos do “Leonidas M.”, afundado horas antes. Entre as 17.30 e as 20 horas os sobreviventes do cargueiro grego esperaram pacientemente nos seus botes antes de arriscaram a subida a bordo do navio português, não fosse este também ser metido a pique...

Numa viagem aos EUA, em Março de 1942, o “Cunene” foi surpreendido por um U-boat que emergiu a umas dezenas de metros para o informar da existência de três baleeiras com náufragos poucas milhas a sudoeste. Eram 29 sobreviventes do norueguês “Svenor” que foram metidos a bordo e deixados em Filadélfia. No regresso a Lisboa o mesmo "Cunene" teria novo encontro com náufragos noruegueses, desta vez em número de 12 e pertencentes ao petroleiro "Koll".

Também o paquete “Angola” foi parado a 19 de Novembro de 1943 por um U-boat alemão quando vinha das colónias africanas em direcção ao Funchal. Desta vez o pedido de ajuda era para um tripulante do próprio submersível, doente com uma pneumonia. Sem condições para o tratar a bordo o comandante do submarino pediu ajuda ao capitão Nazareth Cardoso.

Este último não deixou qualquer referência ao acontecimento no Diário de Navegação do paquete português, mas o oficial germânico deixou por lá uma nota de agradecimento e mais tarde a Legação Alemã em Lisboa ofereceu-lhe um caixa em madeira de ébano como forma de agradecimento, que ainda hoje se mantém na família.

Estes são apenas alguns dos mais de cinquenta salvamentos realizados por navios portugueses ao longo da II Gerra Mundial. Na última semana tínhamos referido o caso do Alexandre Silva que salvou três tripulantes do Peleus. Prometemos trazer mais algumas histórias na próxima semana...

Carlos Guerreiro

3 comentários:

  1. Muito interessante este Blog, gosto de ler estes artigos sobre a vida no mar durante a segunda guerra.

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  2. I am extremely interested as my father was one of the men on the KEYSTONE THAT WAS rescued by the Sines he said they were treated with the up most respect

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  3. Existiria por acaso nesse prestigiado blogue, informações sobre o diário de bordo do Navio (ou Paquete - não sei como chamar) Angola de 23.03.1941 (saída do Rio de Janeiro) a 13.04.1941 (chegada a Lisboa)?
    O que ocorre é que minhas saudosas mãe e irmãs iriam retornar a Portugal por um navio anterior ao Angola, mas pelo fato de minha irmã Maria Violete de Oliveira Tavares ter nascido no Rio de Janeiro em 02.08.1939 as autoridades brasileiras não permitiram ela embarcar. Contudo, pelo fato dela ter pouco mais de 1,5 anos (precisando ser amamentada) e ser paralítica, autorizaram ela embarcar no navio seguinte, que foi o Angola.

    Pois bem, minha saudosa mãe, Dalila de Oliveira, contava que ao passarem, creio, pelo arquipélago de Açores, recolheram alguns tripulantes que conseguiram se salvar do navio que elas inicialmente iriam viajar, o qual foi posto a pique por um submarino alemão. No diário de bordo do Angola, deve ter sido registrado que navio foi esse e qual a bandeira, para que eu possa registrar na história da família a informação correta.

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