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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Médico português... no centro do nazismo.





O livro saiu agora e a história é impressionante. Fica a reportagem escrita e as imagens da SIC. Numa altura em que há feira do livro em Lisboa e outras feiras vão aparecer nos próximos meses, está aqui mais uma escolha para quem se interessa por estes temas.




Publicação: 05-05-2010 17:59

Publicado relato de médico português que colaborou em investigações nazis

Um médico português envolvido nas investigações nazis sobre o aperfeiçoamento da espécie é o fio condutor de uma reportagem agora transformada em livro, o primeiro a relatar a história verídica de José Ayres de Azevedo.


"Um cientista português no coração da Alemanha nazi"


Mais do que um livro, a obra "Um cientista português no coração da Alemanha nazi" relata a presença de um médico português na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, altura em que Ayres de Azevedo foi para Berlim trabalhar num dos mais reputados centros científicos do mundo, conhecido pelas investigações sobre higiene racial, biologia de hereditariedade, paternidade dos judeus, entre outros.

A trabalhar e a estudar debaixo do mesmo teto que os cientistas que deram suporte à política racial do "pai do nazismo", Adolf Hitler, e tendo como mestre inspirador Otmar von Verschuer, José Ayres de Azevedo "participou num dos mais importantes acontecimentos" da História Mundial, segundo o autor da obra, José Pedro Castanheira.

"Não tenho conhecimento de mais nenhum outro português que tenha trabalhado nesta área, durante a guerra e nazismo. Só por isso, estou absolutamente seguro de que este livro é um elemento para a História", considerou o autor.

Em declarações à Lusa, o escritor (e jornalista) explicou que tinha acabado de escrever um livro, quando recebeu na caixa de e-mail a indicação de um leitor para aprofundar a história deste médico, já falecido e sobre o qual nunca tinha ouvido falar.




"Agarrei na história, averiguei, desenvolvia-a e publiquei uma reportagem no Expresso, em 2007. Depois, fiquei com tanto material nas mãos, com tantos pormenores para contar, que decidi publicá-la em livro", explicou o autor, sublinhando ter tido acesso a "inúmeros documentos e informação", além de ter contactado com um dos filhos do médico-cientista.

Durante o período em que permaneceu na Alemanha, José Ayres de Azevedo especializou-se na análise dos grupos sanguíneos dos gémeos, tentando aferir os sinais de hereditariedade, colaborou na principal revista científica de eugenia (ciência de aperfeiçoamento da espécie por via da seleção genética) e participou na elaboração de inúmeros pareceres solicitados pelos tribunais nazis, os quais se relacionavam com a determinação da paternidade de judeus ou com a esterilização, sobretudo de deficientes.

Já em 1943, o português trabalhou no mesmo instituto, com o mesmo mestre e sobre a mesma área científica, que o famoso médico Josef Mengele, apelidado de "anjo da morte" no campo de extermínio de Auschwitz.

"Ayres de Azevedo certamente que se cruzou ou conversou com um dos principais símbolos do terror do campo de concentração. Trata-se de uma coincidência trágica e fantástica", considerou José Pedro Castanheira, sublinhando que este é um elemento que "confere interesse acrescido a esta história".

Mais tarde, com a cidade de Berlim a ser bombardeada diariamente pela aviação aliada, o português foi obrigado a regressar ao Porto, onde ultimou a tese de doutoramento.

A dissertação, no entanto, não chegou a ser discutida, embora a data e o júri estivessem já marcados, pois o Conselho Escolar, órgão máximo da faculdade, acabou por expulsar Ayres de Azevedo da docência.

Suspenso pela Ordem dos Médicos, desiludido e amargurado, José Ayres de Azevedo abandonou em definitivo a investigação e a medicina.

"Um cientista português no coração da Alemanha Nazi" será apresentada por João Lobo Antunes, autor do prefácio, na próxima quarta feira às 18h30, no Instituto Goethe, em Lisboa.

(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Lusa

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